25 de abril de 2009

. quantas toneladas tem o peso da leveza? .




. essa coisa de buscar ser leve . de tentar não deixar com que o corpo se curve no peso das coisas . de tentar mover-se como a dança de fumaças de um cigarro indo a procura do incansável . de tentar buscar ver o lado aconchegante das coisas do mundo . pesa demais, sabe? . pesa tanto que o que a gente acaba vivendo é o medo da balança quebrar em padaços . essa coisa de tocar com os olhos . de lamber com o tato . de tocar pra conhecer qualquer significado sem qualquer entendimento exato . cansa . cansa tanto que os ombros se curvam . essa coisa de se aprisionar em liberdades ilusórias é contraditório . e buscar a leveza das coisas a todo custo é deixar de ser leve . essa coisa toda da vida . de tentar buscar o caminho do meio . de tentar driblar a falta de sentido das palavras . cega o corpo, sabe? . atrofia os sentidos do corpo . e o corpo pesa em si mesmo . essa coisa de ser leve... . de tentar deixar a vida se levar pelo vento . de tentar voar nos momentos . e deixar passar . parece que não passa nunca . tatua o corpo todo com o peso de tentar ter leveza o tempo todo . e quem disse que leveza não pesa? . e quem disse que leveza não quebra as vértebras? . e quem disse que leveza não atrofia os desejos? . não é questão de não se abismar com o mundo . com a novidade dos dias como intervalos cercados do novo . pesa e muito contemplar a falta de entendimento do mundo sem sentidos . pesa muito a suposta leveza imaginária das palavras ao vento . pesa tudo . quebra os ossos . confunde a língua no ato de tentar dizer-se . e quem foi que disse que a leveza é leve? . pesa o que não é fácil carregar . a chuva pesa ao cair limpando o ar . e por isso que limpa . porque o ar em sua leveza pesa nessa coisa de pesar . não sei . mas alguém me diga quantas toneladas tem o peso de tentar levitar ? . de tentar encarar de frente ou de fugir? . de estar sempre ao meio . caminhando nas entrelinhas? . na corda bamba dos sentidos sem sentido que o mundo sabiamente te faz se desequilibrar? . o extremo meio de tudo . o segundo ponto das reticências . o estar entre as coisas . essa constante inconstância de se mover sem sair do lugar... . me faz pensar que a leveza faz pesar .

19 de abril de 2009

. quê? .

. penso como é frágil se deixar levar pelas palavras . penso como é denso querer ser palavra no mundo ditado por elas . penso em palavras . com palavras . e, às vezes, acredito eu... que pelas palavras eu penso . penso muito . e penso tanto... que penso que um dia ainda enlouqueço caminhando pelas entrelinhas das linhas das palavras que voam ao vento . penso que as palavras inventam o mundo que invento . penso que o corpo é casa de palavras . assim como os livros . mas a diferença é que os livros guardam as palavras dentro . e o corpo não tem dentro . pra palavras não existe epiderme . porque as palavras caminham entre os poros . correm lentas vagando entre os vasos . rasos e frágeis como a palavra que carrega . a palavra inventa o corpo . a palavra dá poder ao corpo . submete o corpo aos poderes das palavras . as palavras são ações do corpo . são as suas relações . e a palavra é livre e passageira . a palavra sai da boca . sai das mãos . sai dos olhos . da pele . e vai de passagem com o vento . e vai pedindo passagem . pedindo pra passar por todos os poros . pra carregar com o vento todos os cheiros que o corpo inventa em seus sentidos . o corpo pedindo direção se desorienta . perde o rumo . perde o chão . vai em vão caminhando entre folhas em branco . é que folha em branco pode ser asa ou prisão . folha em branco as vezes diz bem mais que folhas cheias de palavras . é que as palavras repetidas pelo corpo ganha sentido de cimento . de coisa que se faz e se finca . fica presa entre as entrelinhas dos poros . é que o corpo grita... o corpo grita... o corpo grita .