. o quarto .

.

um canto

pedaços de paredes
que se encontram numa quina

a esquina

do chão
com o alto

tão mais alto que eu
me auto-estimo

um tino
um grito

agudo

auto-flagelo
singelas dobras
de mim
comigo

espelho
me auto
imagem
de mim

me encanto
canto meu tom

me tomo
de mim
toda
assim

um meio
um quarto
um fim

assim

no começo de tudo
na quina
ex-quina

esquina

ser
eu
me
de
sa
ti
na


.

. a casa .

.

uma rua cheirando a mijo...
apresso os passos
vejo um mundo à minha volta

um barulho que não ouço
estupra meus ouvidos
me escuto

podre

prossigo

sigo o cheiro do esgoto
ando
estranha

o mundo corroendo as entranhas

me encontro

eis minha casa
onde me estranho
me desconheço
me despedaço
meu desperdício

dispersa de mim
me distraio comigo

... e rio


.

. preguiça .

. não tenho tido vontade de escrever ultimamente . às vezes pego o papel . começo a escrever . mas são tantas palavras sem sentido . que paro . transformo palavra em rabisco . e quando olho me parece que não muda nada . ... . é assim . aqui nada muda . tudo de mim é sugado . palavras são repetidas repetidas . e me canso . me canso de falar o mesmo e dizer a mesma coisa . me canso ouvir um blábláblá eterno que não muda nada ser dito ou não . tenho preguiça de ser criativa pra falar de uma outra forma sobre o mesmo que me cerca . ando cercada demais da mesmisse de minhas palavras . olhos acomodados se contentando com o mesmo . ouvidos tapados . a coluna curvada . a pele enrugada . uma alegria apática . sei lá . por isso não tenho visto muita graça em escrever . apesar de que as vezes é nessa mesmisse que as palavras se desdobram como um bom texto . tenho me cansado mais que tido ânimo . tenho tido mais sono que vontade de estar acordada . acho que é isso . tenho tido a vida adormecida aqui dentro . e isso é lindo . não ter tempo pra escrever por estar sentindo tudo demais . e sentir sempre foi melhor que racionalizar isso que chamo de palavras... .