26 de junho de 2009

. no processo de emborboletar-se .


. ando prezando enormemente os que tem coragem . os que saem andando sem conhecer o caminho . os que fazem fazendo do ato a própria consequência . dos que não medem os passos . e saem de si conhecendo o mundo com olhos de criança faminta do novo . tenho prezado muito os que derrubam as paredes . pra estar no mundo e sê-lo . pra fazê-lo . e enfim... . ando descobrindo o que não sabia de mim . e nada melhor que um mundo desconhecido pra que isso aconteça . ando presa enclausurada e cheia de medos dentro desse casulo que criei pra mim . transformar-se dói o corpo todo . a pele se modifica . a voz fica tremula . os pés inseguros . as pernas bambas . o estômago faminto . o pulmão pequeno . a as mãos... ah as mãos... elas não sabem onde tocar . nem em quem . nem como . nem quanto . nem porque... . minhas mãos estão atadas . tudo desconfigurado . isso aqui não tem passagem de volta . nem que eu volte pro lugar de onde vim . nem que eu voe . e é bem isso o que anda ocorrendo . me sinto lagarta em repouso procurando a hora certa de sair do casulo... como nunca, ando me dando esse tempo . ando afirmando esse termo de ter que aprender a voar . a lagarta se aquieta em seu casulo pra mais tarde voar no mundo em que tanto tempo se arrastou... . e eu não sei fazer nada além de me arrastar no mundo em que criei . da janela vejo o mundo gigantesco que desconheço . vejo medo em tudo . muito barulho . muito cimento . muito verde . é muita contradição . é muita vida em cada esquina se mostrando cada vez mais de maneira a formar as asas que procuro em mim . eu não sei . mas ando prezando muito por quem tem coragem... . por quem tem mãos firmes . pés seguros . mesmo que não seja no chão . ando prezando muito por bons atores . principalmente por quem não tem pressa . mas faz tudo acontecer agora . acho que perdi minhas pernas . meu processo de transformar-me em algo que voa anda sendo estranho . e eu que achava que tinha coragem de enfrentar o mundo com o peito aberto . e eu que acreditava fielmente que eu era do tamanho do mundo... . as pessoas aqui falam muito . bem mais que o necessário . como em todo e qualquer lugar . mas falam alto . com o sotaque que escorrega pela boca de uma maneira tão diferente do que eu tinha me acostumado . não sei... . mas a fragilidade do corpo pesa . as palavras andam pesando já há algum tempo . a cada dia que passa ando sabendo usá-las cada vez menos . acho que é isso . vou voltar ao silêncio de lagartas aprendendo a se transformar . mais que os homens, as lagartas sabem bem os sentidos das metáforas de transformar-se em algo que não são ainda que continuem sendo .

18 de junho de 2009

. impredizíveis .

.


imprevisíveis
são
os passos que dão
as pernas maiores que são
num camimho
vão
e
vão
na busca das ruas
menores que esquinas
que indizíveis
dão
aos mundos incertos
em minhas rotinas
imprevisíveis
são
caminhos em vão
e vão
em passos
impasses
que passam
não
perder-se em caminhos de cidades alheias
é conhecer um mundo
que se faz
impredizível

sem muito o que dizer...
as vezes os pés são maiores que os passos
e os passos menores que as pernas

tropeços...
quedas...
e o corpo é sempre outro...
o mundo é sempre novo



.

1 de junho de 2009

. retalhos .


. a vida tem dessas coisas . eu não sei . mas a vida anda se fazendo com tamanha beleza . e em meio ao peso e a leveza . a vida anda intensa em seus tons . deve ser o tempo correndo . a vontade de abraçar o mundo . dizem que a vontade de voar sem asas dá nisso... . eu não sei . mas, a vida tem se mostrado numa beleza sem tamanho . em todas as tonalidades possíveis de suas contradições . e em assunto de beleza . a vida não anda sendo nem um pouco generosa a meus olhos . tem vindo de tal forma brusca . forte . explosiva . numa intensidade que estoura a pupila . que invade a pele inteira . e a vida tem estado ao mesmo tempo, tranquila . num movimento de rede marcando o tempo das tardes querendo se fazer inverno . esperando a água pra lavar a rua . pra inundar os olhos . pra nadar o mundo . eu não sei... . a vida tem se mostrado grávida . grávida de vida . grávida de momentos com nitidez de cicatrizes . de tatuagens . de coisas que passam e que ficam . em seus rastros . traços indefinidamente marcantes . feridas . polegadas . toques . digitais . deixando marcas . deixando a lembrança do cheiro . a lembrança do vento . a lembrança de cores saturadas ao extremo . eu não sei . pelo que me parece a vida sempre foi assim .a vida sempre foi intensa . e as coisas sempre aconteceram de forma a não poder contentar-se consigo mesma . eu não sei . mas a vida me parece grávida . extremamente grávida de si mesmo . de uma vontade extrema de si . grávida de desejos . grávida de sonhos . grávida de dúvidas e agradecimentos . sem tempo certo pra parir . a vida tem sido de uma beleza... que o corpo não basta .