15 de novembro de 2009

. sei lá .

. sei lá . não sei . tanto faz . tem dias que é assim . essa coisa toda . esse vácuo no meio do corpo . ... . e nem é fome que eu sei . é um vazio de mundo . uma preguiça de vida . uma vontade de canto . de quina . de silêncio bem mudo . de nada . de tudo . sem meio termo por hoje . ... . é que ultimamente não tenho dado muito palavras às coisas que ando sentindo . tento traçar em linhas curvas que não são letras . mas desenhos abstratos . imagens concretas do que a gente não sabe dizer . tenho deixado adormecidas as palavras que saem pelos dedos . tenho deixado a boca seca . o ouvido mudo . os olhos cegos . o corpo curvado . deve ser o peso de tanta palavra dentro... . fora . acho que cansei... . acho que é sono . acho . preciso achar uma maneira de pesar mais nas coisas que faço . sei lá . não sei . tanto faz . é que tem dias que é assim .

12 de novembro de 2009

. e uma asa na alma .

... é . é que eu prefiro as coisas que não terminam . as coisas que vão além das bordas . dos desenhos que vão e dão continuidade saindo do papel e terminando onde permite a imaginação . eu prefiro as coisas largas . que não se pode segurar com as mãos . prefiro as coisas que não cabem nos olhos . e que não cabem aos olhos uma ilusória distinção . eu gosto das palavras inventadas . de idiomas intraduzíveis . de sotaques misturados . eu gosto de bagunça no quarto . pra arrumar as coisas arrumando a vida . eu gosto da estranheza . do inesperado . do que balança o que parece tão bem estabelecido . eu gosto da estranheza do silêncio . e gosto quando esse silêncio aproxima . eu gosto muito de silêncio . muito mesmo . e de cidades pequenas . de cidades estranhas . de pessoas que se conhecem e que se falam nas ruas sem educação . gosto de intimidade porque intimidades não pede que você seja educado . educação é formalidade . e eu não gosto de coisas formais . não gosto de programas burgueses . de bairros de elite . não gosto de roupas caras . não gosto de maquiagem . nem de salto alto... . mas me pergunto às vezes se isso faz realmente grande diferença... . não interessa qual a fantasia que se usa no dia-a-dia . qualquer roupa é qualquer fantasia . e as fantasias não te dizem realmente sobre a nudez do corpo . usar roupas é questão de educação . de civilização . e eu não sei se vejo muita vantagem em ser tão bem civilizado . pessoas civilizadas em suas organizações não sorriem muito . são todas tensas preocupadas em atuar muito bem o papel que aparentam ter com suas fantasias . é tudo muito atuado demais . pouca espontaneidade . pouca alegria . pouca paz . pouco caos . por isso que cidade grande parece estar sempre a ponto de bala . elas se encontram sempre no meio termo de um fio tênue entre uma coisa e outra . isso às vezes parece interessante quando se trata de uma cidade onde tem pessoas do mundo inteiro se fantasiando de todas as maneiras possíveis . a qualquer momento um bum . e pessoas começando a entender o que se trata realmente de espontaneidade . de ter o corpo em movimento... . cidades organizadas são recheadas de tédio . pessoas sendo educadas o suficiente para serem o mais mecânicas possíveis . e as coisas mecânicas me deixam realmente entediada . me deixa com sono . com preguiça de viver . sei lá . ando escrevendo bem menos . tem uma coisa adormecida aqui dentro . parece que ainda é aquela história de lagartas guardadas em casulos com medo de virar borboleta... . sei lá . tanto faz . só sei que gosto de coisas que dão asas à imagem . asas à iaginação . pra que se tenha uma asa na alma . pra que se queira sempre continuar coisas que parecem não terminar . em nada . nem em si . nem no outro . coisas que ão tocam você porque passam por você sem que você tenha dentro . um corpo sem limites . um mundo sem limites . sem fronteiras . sem órgãos . pra que a asa voe . pra que tudo tenha ilimitado movimento . pra que tudo o que se sinta não se esbarre com uma questão de entendimento . é que a vida não tem discernimento . é que...

9 de novembro de 2009

. o galho da alma .

. vim . ver . voar . pousar em outra janela . aprender um novo pouso . preparar os ombros pra cair num novo abismo . de asas abertas . de olhos fechados . de pés desatados . desacorrentados . ir . vir . voltar . nunca pro lugar de partida . a partida é sempre um novo lugar de chegada . pisar em terreno novo: "aqui, estou eu . sentada ao lado de um felino com as portas, da janela, abertas . pupila dilatada . a cor da noite . o barulho de chuva . e o pulo do gato num novo movimento ... a paisagem da minha janela tem linhas retas . céu fechado e pequeno . os dias sem raio de sol . mesmo em dia ensolarado . observo a vida . nas outras janelas . nessa hora do dia a vida dorme e sonha em quartos escuros . uma ou outra janela aberta pro mundo . a vida não vive a madrugada . ao lado do muro esquerdo uma árvore . pelo menos uma . e continuo sentada pensando que o que a natureza cria é cheio de curvas . pra dar movimento..." . o que o homem cria é quase sempre reto . homens constroem paredes . muros . janelas e portas retas em seus sentidos . o homem cria barreiras . mapeam seus espaços . ilusões sem propriedades que ainda se insistem como definições humanas . a janela do meu quarto está reta na nova cidade desconhecida . e eu, nela, fechada com minhas portas entreabertas . pés inseguros na ilusão de suas prisões . rir . ser . olhar . quebrar a linha reta desse horizonte sem horizonte . se confundir . ir . se perder . em si . ter . saudade . pousar . ser o lugar . sucessivas imagens .

6 de novembro de 2009

. desenho sanguíneo .

. é que desenhar é como viver o que se vive . o que se pensa e o que se sente independente do que seja . é que traçar um traço numa folha de papel é como dar borda ao que não se decifra . não se pega nas mãos... então a mão vai lá e faz . se inscreve como uma imagem aquilo que vê entrando pelo olho da pupila . não é uma questão de captura . nem de decifrar o que se olha . não é uma questão de dar um nome à coisa vivida . ilustrar e engavetar a vida . não há como tocar na vida . a vida não é algo dado como uma pedra ou qualquer outra coisa . a vida vigia às coisas do mundo como um felino silencioso observa o movimento da rua . sentado na borda da janela . no topo de um telhado . dentro do seu escuro . dentro de seu silêncio . desenhar é dar adeus . dar adeus às histórias . despedir-se de si mesmo . corrente sanguínea entre a tinta e o corpo . é o corpo se jorrando como quem se respira . é ir e vir sem sair do lugar . pra que se chegue em todos os lugares .

9 de agosto de 2009

. janela sem borda .

. a foto seria em tom meio lilás... . a janela aberta deixando o vento entrar e bagunçar os cabelos que acabei de arrumar pra sair... . nessa hora tudo tem a mesma cor, já reparou? . é tudo cor de pôr... . o sol se pondo e me ponho a lembrar da conversa que tive hoje com o passarinho que pousou ao lado da janela da sala... . nunca entendi tanto alguém... e nunca fui tão bem entendida... . é que passarinho entende mesmo . e ele ensina muito bem como dialogar... . é que dialogar com passarinhos não é simplesmente conversar . é interagir com o mundo . com o canto do que soa como desconhecido . é engraçado se desconhecer . é engraçado . tem uma árvore grande com as folhas secas... ou são flores vermelhas... não sei . mas a árvore está na cor das casas de tijolo sem pintura e da cor do sol no encontro com o horizonte... . hoje o dia resolveu doer no estômago de novo... . deve ser a maldita saudade que não me cansa de me fazer sua morada predileta... . os vidros das janelas estão refletindo o amarelo do sol... . domingo silencioso . nem parece que tem jogo... . nem parece que moro no caos do porto... . hoje isso aqui tá mais pra cais . com seus barcos em silêncio esperando a hora de partir pro nada... . casas antigas . antigas moradas . árvores grandes... o que significa serem antigas também... . hoje me sinto antiga também... à moda antiga expurgando saudade pelos dedos sem medir muito as palavras . nem tem pra quê também... esse negócio de medir... dar limite... pra quê? talvez por isso eu não tenha fotografado a paisagem da janela desse quarto que não é meu mas que tem todas as minhas coisas nele... . o quarto é dele... e ele tem as cores dessa tarde meio bucólica . meio rosada puxando pra lilás . meio triste de tão alegre . cores incompreendidas . cores lindas . ... . as janelas começam a ganhar cor de luz de sala que acabou de ser acesa . sabe quando o sol já se pôs a descansar, mas ainda resta um pouco de luz no dia . e que de tudo ter a mesma cor até as luzes da sala se tornam parte desse cenário meio alaranjado prestes a ter cor de noite? . acho que foi por isso que não fotografei... porque falar dá menos borda à imagem... . dá menos enquadramento . essas palavras sem sentido... . ainda vão me levar à ter cor de luz acesa na sala . perto da hora da janta . perto da hora que o dia começa a terminar... . perto da hora que o dia se cala pra se por a dormir... e descansar... queria ter tirado uma foto dessa imagem... . é... acho que queria... pelo menos a foto não teria que ter um final . talvez falar sobre algo descrevendo o que se vê seja dar mais borda que o enquadramento de uma foto... as palavras sempre pedem um final? que nem esse final de dia meio bordado de saudade... ? obrigada pela falta de sentidos... obrigada... . o limite dessa imagem... a borda dessa imagem é minha janela... .e é sempre bom ouvir esse silêncio... .

14 de julho de 2009

. madrugada, minha janela estava acesa .


.

uma madrugada . uma eterna saudade . o acaso de mim . talvez . um cigarro aceso . intragável . um placebo . um sinal fechado numa esquina vazia . um ponteiro quebrado . uma palavra indigesta . nuvem escondida à céu aberto . uma música repetida obsessivamente . uma lágrima presa . um nó na garganta . uma pele seca . uma dúvida incessante . uma tristeza pulsante . um vontade de vida . um desenho abstrato . um traço impreciso . um sonho indeciso . um desejo de mundo . um galho solto de uma árvore velha . imagem-movimento . ponteiro fluido desmarcando o tempo . a solidão do vizinho ao lado . morando aqui dentro . uma porta e n t r e a b e r t a na espreita à espera . uma espera . à espera . a repetição da rotina . uma gastrite crônica imaginária . pulmão sem ar . um ritual de um ritmo . um desatino . que desatina os tons . uma parede em branco . um trinco quebrado . um medo cravado . um cheiro inventado . a mentira sincera . e a espera... . contornando as curvas inacabadas de desenhos inexatos em seu nexo . o corpo não compreende o desejo em palavras . o desejo é uma fresta . um vulto de si no espelho . são os olhos secos e sedentos . transbordando a ilusão de si . de ser . é o travesseiro frio à espera do sono . o lençol dobrado esperando o calor do corpo . o roçar da pele com frio . meros detalhes . e esse silêncio que estarrece a noite insône . e "o que será que será que será?" . noite lúcida de sonhos . funeral sem flores de qualquer utopia . singela dor de alegria . difusa . confusa . obtusa . uma alegria . a alegria . uma meia lua rimando comigo . rima inacabada de mim comigo mesma .

26 de junho de 2009

. no processo de emborboletar-se .


. ando prezando enormemente os que tem coragem . os que saem andando sem conhecer o caminho . os que fazem fazendo do ato a própria consequência . dos que não medem os passos . e saem de si conhecendo o mundo com olhos de criança faminta do novo . tenho prezado muito os que derrubam as paredes . pra estar no mundo e sê-lo . pra fazê-lo . e enfim... . ando descobrindo o que não sabia de mim . e nada melhor que um mundo desconhecido pra que isso aconteça . ando presa enclausurada e cheia de medos dentro desse casulo que criei pra mim . transformar-se dói o corpo todo . a pele se modifica . a voz fica tremula . os pés inseguros . as pernas bambas . o estômago faminto . o pulmão pequeno . a as mãos... ah as mãos... elas não sabem onde tocar . nem em quem . nem como . nem quanto . nem porque... . minhas mãos estão atadas . tudo desconfigurado . isso aqui não tem passagem de volta . nem que eu volte pro lugar de onde vim . nem que eu voe . e é bem isso o que anda ocorrendo . me sinto lagarta em repouso procurando a hora certa de sair do casulo... como nunca, ando me dando esse tempo . ando afirmando esse termo de ter que aprender a voar . a lagarta se aquieta em seu casulo pra mais tarde voar no mundo em que tanto tempo se arrastou... . e eu não sei fazer nada além de me arrastar no mundo em que criei . da janela vejo o mundo gigantesco que desconheço . vejo medo em tudo . muito barulho . muito cimento . muito verde . é muita contradição . é muita vida em cada esquina se mostrando cada vez mais de maneira a formar as asas que procuro em mim . eu não sei . mas ando prezando muito por quem tem coragem... . por quem tem mãos firmes . pés seguros . mesmo que não seja no chão . ando prezando muito por bons atores . principalmente por quem não tem pressa . mas faz tudo acontecer agora . acho que perdi minhas pernas . meu processo de transformar-me em algo que voa anda sendo estranho . e eu que achava que tinha coragem de enfrentar o mundo com o peito aberto . e eu que acreditava fielmente que eu era do tamanho do mundo... . as pessoas aqui falam muito . bem mais que o necessário . como em todo e qualquer lugar . mas falam alto . com o sotaque que escorrega pela boca de uma maneira tão diferente do que eu tinha me acostumado . não sei... . mas a fragilidade do corpo pesa . as palavras andam pesando já há algum tempo . a cada dia que passa ando sabendo usá-las cada vez menos . acho que é isso . vou voltar ao silêncio de lagartas aprendendo a se transformar . mais que os homens, as lagartas sabem bem os sentidos das metáforas de transformar-se em algo que não são ainda que continuem sendo .

18 de junho de 2009

. impredizíveis .

.


imprevisíveis
são
os passos que dão
as pernas maiores que são
num camimho
vão
e
vão
na busca das ruas
menores que esquinas
que indizíveis
dão
aos mundos incertos
em minhas rotinas
imprevisíveis
são
caminhos em vão
e vão
em passos
impasses
que passam
não
perder-se em caminhos de cidades alheias
é conhecer um mundo
que se faz
impredizível

sem muito o que dizer...
as vezes os pés são maiores que os passos
e os passos menores que as pernas

tropeços...
quedas...
e o corpo é sempre outro...
o mundo é sempre novo



.

1 de junho de 2009

. retalhos .


. a vida tem dessas coisas . eu não sei . mas a vida anda se fazendo com tamanha beleza . e em meio ao peso e a leveza . a vida anda intensa em seus tons . deve ser o tempo correndo . a vontade de abraçar o mundo . dizem que a vontade de voar sem asas dá nisso... . eu não sei . mas, a vida tem se mostrado numa beleza sem tamanho . em todas as tonalidades possíveis de suas contradições . e em assunto de beleza . a vida não anda sendo nem um pouco generosa a meus olhos . tem vindo de tal forma brusca . forte . explosiva . numa intensidade que estoura a pupila . que invade a pele inteira . e a vida tem estado ao mesmo tempo, tranquila . num movimento de rede marcando o tempo das tardes querendo se fazer inverno . esperando a água pra lavar a rua . pra inundar os olhos . pra nadar o mundo . eu não sei... . a vida tem se mostrado grávida . grávida de vida . grávida de momentos com nitidez de cicatrizes . de tatuagens . de coisas que passam e que ficam . em seus rastros . traços indefinidamente marcantes . feridas . polegadas . toques . digitais . deixando marcas . deixando a lembrança do cheiro . a lembrança do vento . a lembrança de cores saturadas ao extremo . eu não sei . pelo que me parece a vida sempre foi assim .a vida sempre foi intensa . e as coisas sempre aconteceram de forma a não poder contentar-se consigo mesma . eu não sei . mas a vida me parece grávida . extremamente grávida de si mesmo . de uma vontade extrema de si . grávida de desejos . grávida de sonhos . grávida de dúvidas e agradecimentos . sem tempo certo pra parir . a vida tem sido de uma beleza... que o corpo não basta .

26 de maio de 2009

. sobre touros e direções .


. diz que o touro vai na direção do pano vermelho não porque é vermelho. dizem que touro vê tudo em preto em branco . é o movimento do pano que faz o touro ir em direção ao toureiro . e dizem que o toureiro sempre sente medo do touro . porque touro pode vir numa direção e sem avisar mudar o rumo de onde vai meter o chifre . o chifre do touro é forte . além de ataque é também defesa . touro é forte . e dizem que ele olha pro pano vermelho pra não olhar pros olhos do toureiro . touro não pode olhar pros olhos . se não, vem direto bem no meio da barriga de quem olha . touro brabo . touro doido . touro manso . touro quente . touro de terra . com pés firmes no vento . tem que ter pé firme pra ter força de quebrar toureiro ao meio . tem que ter pé firme . mesmo que não tenha pé no chão . pra ir atrás de movimento . manu é touro... . meu touro doido . porque manu é terra em fogo . ela queima . deixa em brasa . e ela vai correndo solta atrás de movimento . porque ela é fogo em ar . se alimenta do mundo com fome de touro faminto . faminta por movimento . ela corre olhando no fundo dos olhos indo em direção à você . e quando você vê ela ja te partiu ao meio com a doçura de um touro cheio de ternura . cheio de sonhos . cheio de doçura . manu é do tipo de touro que não te quebra ao meio com chifres . ela te quebra ao meio com os olhos . com o toque certeiro das mãos acarinhando o cabelo . te quebra ao meio com as cores abstratas que ela tem dentro dos olhos . manu é do tipo que chora com o silêncio . com a palavra macia de carinho . com o abraço apertado vindo na hora certa . manu é do tipo que pinta e se pinta toda ao pintar . é esse movimento de não ter limite entre o que começa e o que termina em si mesmo . é ar em água transparente . do tipo que não perde tempo mentindo com palavra alguma . se o movimento não for certeiro ela nem perde tempo olhando pro pano . ela olha é pro fundo dos olhos e segue pra entrar pela pupila . touro de expandir o corpo . touro de deitar na densa imensidão de si mesma . densa . não pesada . a palavra é densa . muitas palavras . muita coisa pra tirar de dentro . muito movimento pra querer seguir . manu é do tipo que dá peso ao mundo . e é lindo quando ela corre pelo mundo feito touro livre . touro com asas de ar em direção à água . água pra boiar leve em sua densa leveza . manu é assim . vem e entra pelos olhos . vem e te quebra ao meio em meio a tudo que é abstrato . é muito mundo pra correr . é muito movimento pra querer seguir . é muito fogo pra queimar . é muito ar é muito ar é muito ar .

11 de maio de 2009

. carta à pedrinho .


.

aaaai pedrinho... e eu que acreditava que meu espírito realmente fosse livre... sempre me disseram isso... taíme, não adianta... você não é árvore... não tem raízes presas na terra... seu lugar é o mundo... e eu sempre acreditei nisso... e sempre gostei de "ser" assim... até que sexta-feira eu tive um baque!............ a moça que vinha das ilhas virgens cantava em cima do palco... a música era lenta e forte. ela tinha muitos panos no corpo. ela tinha uma cor linda. ela era realmente muito linda. e em um momento percebi que ela tinha as cores de uma árvore. ela era marrom e verde... uma linda árvore por sinal... ela se mexia bem pouco.. mas a voz dela.. dançaaaava lindamente em meus ouvidos... foi quando vi a mulher-árvore: livre... mais livre que eu e sem se mexer... guardava uma postura de árvore-ereta e confiante dos tons que fazia. ela era linda. e num momento de fantasia profunda me vi como pássaro pousando nela. ela cantava musicas que me paralizavam... e eu ficava estátiva olhando pra ela. olhava muito e fixadamente. daí me questionei: quem é mais livre: a árvore ou o pássaro? pedrinho... fiquei tonta... atordoada... fechei os olhos. acendi um cigarro e voltei a olhar pra mulher-árvore... livre é o pouso, pedrinho... porque não é sair voando por aí que dá sentido a liberdade. a liberdade nem existe mais pra mim... livre é a árvore que quieta, zela por suas raízes sem se forçar a sair dali... o pássaro tem asas e voa... vai com o vento pra longe e volta... mas ele precisa em algum momento pousar... daí me deparei com o baque.... não tenho espírito livre... meu espírito é nomade!!! ele vai de árvore em árvore buscando o pouso mais confortável... por tempo indeterminado.. ele vai voa e pousa em algum galho... constrói o ninho... colhe os frutos da árvore, se esconde da chuva... depois vai.. a procura de novos lugares... de novos mundos... as árvores são mais livres que os pássaros porque cada árvore é um mundo... e ela corre o mundo é pelas raízes... não pelo desprendimento do vôo... de um vôo que uma hora ou outra vai precisar pousar... e eu que estava sendo árvore pousando em passarinhos...

.






(pintura em tela que dei pra carol...)

25 de abril de 2009

. quantas toneladas tem o peso da leveza? .




. essa coisa de buscar ser leve . de tentar não deixar com que o corpo se curve no peso das coisas . de tentar mover-se como a dança de fumaças de um cigarro indo a procura do incansável . de tentar buscar ver o lado aconchegante das coisas do mundo . pesa demais, sabe? . pesa tanto que o que a gente acaba vivendo é o medo da balança quebrar em padaços . essa coisa de tocar com os olhos . de lamber com o tato . de tocar pra conhecer qualquer significado sem qualquer entendimento exato . cansa . cansa tanto que os ombros se curvam . essa coisa de se aprisionar em liberdades ilusórias é contraditório . e buscar a leveza das coisas a todo custo é deixar de ser leve . essa coisa toda da vida . de tentar buscar o caminho do meio . de tentar driblar a falta de sentido das palavras . cega o corpo, sabe? . atrofia os sentidos do corpo . e o corpo pesa em si mesmo . essa coisa de ser leve... . de tentar deixar a vida se levar pelo vento . de tentar voar nos momentos . e deixar passar . parece que não passa nunca . tatua o corpo todo com o peso de tentar ter leveza o tempo todo . e quem disse que leveza não pesa? . e quem disse que leveza não quebra as vértebras? . e quem disse que leveza não atrofia os desejos? . não é questão de não se abismar com o mundo . com a novidade dos dias como intervalos cercados do novo . pesa e muito contemplar a falta de entendimento do mundo sem sentidos . pesa muito a suposta leveza imaginária das palavras ao vento . pesa tudo . quebra os ossos . confunde a língua no ato de tentar dizer-se . e quem foi que disse que a leveza é leve? . pesa o que não é fácil carregar . a chuva pesa ao cair limpando o ar . e por isso que limpa . porque o ar em sua leveza pesa nessa coisa de pesar . não sei . mas alguém me diga quantas toneladas tem o peso de tentar levitar ? . de tentar encarar de frente ou de fugir? . de estar sempre ao meio . caminhando nas entrelinhas? . na corda bamba dos sentidos sem sentido que o mundo sabiamente te faz se desequilibrar? . o extremo meio de tudo . o segundo ponto das reticências . o estar entre as coisas . essa constante inconstância de se mover sem sair do lugar... . me faz pensar que a leveza faz pesar .

19 de abril de 2009

. quê? .

. penso como é frágil se deixar levar pelas palavras . penso como é denso querer ser palavra no mundo ditado por elas . penso em palavras . com palavras . e, às vezes, acredito eu... que pelas palavras eu penso . penso muito . e penso tanto... que penso que um dia ainda enlouqueço caminhando pelas entrelinhas das linhas das palavras que voam ao vento . penso que as palavras inventam o mundo que invento . penso que o corpo é casa de palavras . assim como os livros . mas a diferença é que os livros guardam as palavras dentro . e o corpo não tem dentro . pra palavras não existe epiderme . porque as palavras caminham entre os poros . correm lentas vagando entre os vasos . rasos e frágeis como a palavra que carrega . a palavra inventa o corpo . a palavra dá poder ao corpo . submete o corpo aos poderes das palavras . as palavras são ações do corpo . são as suas relações . e a palavra é livre e passageira . a palavra sai da boca . sai das mãos . sai dos olhos . da pele . e vai de passagem com o vento . e vai pedindo passagem . pedindo pra passar por todos os poros . pra carregar com o vento todos os cheiros que o corpo inventa em seus sentidos . o corpo pedindo direção se desorienta . perde o rumo . perde o chão . vai em vão caminhando entre folhas em branco . é que folha em branco pode ser asa ou prisão . folha em branco as vezes diz bem mais que folhas cheias de palavras . é que as palavras repetidas pelo corpo ganha sentido de cimento . de coisa que se faz e se finca . fica presa entre as entrelinhas dos poros . é que o corpo grita... o corpo grita... o corpo grita .

16 de março de 2009

. dos nossos sentidos impensados .

.

Sentir-se introspectivo talvez seja um dos meus programas preferidos... usualmente não opto por eles... mas eles estão. E são. E pronto. É engraçado ver alguém dizendo que não se sente bem assim. Que introspecção faz do seu corpo parado . e realmente parece que fica. Usar o cérebro demais pra pensar na possibilidade dos entendimentos das coisas . é não viver na presentidade do tempo. lógicas mal inventadas .
Eu vejo medo no seu cheiro. Medo de se contradizer. De precisar de uma ordem que você não desconheça. Você parece que tem medo de ser livre. E é engraçado, porque as vezes parece que é exatamente o que você quer que os outros vejam em você. Uma liberdade falada e pouco vivida. Menos ainda vívida e alegre. Não entendo o medo de ter dúvidas, incertezas, de estar na corda banda entre a vaidade e o movimento. Movimento de estar nu e cego. E estar introspectivo me permite exatamente isso.. caminhar por uma corda bamba e frágil que me faz me desconhecer, não me entender, mesmo que não me queira assim. Mas, ainda assim, ainda acredito que se permitir talvez deixem as coisas serem mais leves. Mais sentidas. Penso que tentar entender as coisas é não sentir o que rola com elas, por elas, nelas... e acaba que você no final das contas tentou tanto entender tudo que não viveu nada.
A gente é bem muito diferente em vários aspectos. Não acredito que dizer isso à você vá fazer tanta diferença. Exatamente por isso. Não quero que você se sinta assim. Quero que você se sinta do jeito que está. Mas o que eu me pergunto é até que ponto vale a pena realmente ficar introspectivo com o que não precisa ser pensado ou entendido?
Tanto faz... tanto fez. As coisas começam e acabam de qualquer maneira. As coisas vão e vem seja pela direção que for. As coisas são. E acabam não sendo mais até o momento de tentar entende-las.

.

. jogando cartas .

.

Caminhos
Por onde
Passaram
Meus pés
Na busca constante de novos lugares
Mesmo sabendo
Que os lugares
Não estão fora de mim

.

15 de março de 2009

. oficina dos sonhos .

e que se for pra ser
só peço pra que seja assim
da noite amanhecer
aos tons de um tamborim
e esperar sem pressa
pra ver...

e que se for pra ver
que o toque toque a retina
ao vento que vejo soprar
na dança de suas cortinas
...pra ver
o dia correr
e pra remar o dia
pra ver devagar
e desaguar o dia
pra ver divagar
o toque
sem tempo de conjugar

e que se for pra passar
que passe terno
e que o termo
enrugue o riso de rir...

me empresta tuas portas
pra eu entrar em mim

.

8 de fevereiro de 2009

. deixe .


.

deixe que a vida leve
deixe que o tempo passe
deixe que o mundo gire
deixe, que o corpo age
deixe que o amor se ame
deixe o desejo desejar desejos desejar desejos desejar

deixe que o vento voe
pra esparramar os cabelos
deixe que o grito soe
janela a fora fora aos berros
deixe a música se inventar música se inventar

deixe que os dias tragam
deixe que tudo seja
deixa, que o mundo gira
que a vida leve
que a vida é leve
é leve...

.

. água viva .


.

fogo evapora água quando água não apaga o fogo
o fogo diz à água pra ser ar em movimento
fogo muda o estado da água
água mata o estado do fogo de queimar

terra dá a água consistência de lama e de lugar
a lama pesa e diz à água pra ficar...
molhando a terra
regando a vida...

ar movimenta água
água precisa de vento pra com o vento, água mover...
-vento rima água e movimento e água também move o vento-
...água andar
água correr
água ir
sem parar
mesmo que volte
porque água parada tem consistência de morte
água atrofiada
sem vida
doente
sem barulho de gota caindo
guardando a poeira das partículas dos dias
rotinas do corpo
gotículas quebradas no tédio pálido do tempo

água dá água à agua
na turbulência de um encontro feroz
movimento derradeiro
de busca
de encontros
de desejos de algum lugar
de estar sempre indo
indo e vindo sem parar
água doce
água salgada
o que importa é que a água esteja viva
germinando movimentos
alimentando terra
aquecida no fogo
movendo com o ar

água perversa e obscura
aconchegante
mas com correntes
e na correnteza da água a água leva sem questionar
água acalma o estado do corpo
água limpa o mundo de si mesmo
água muda a geografia das terras
água na fúria destrói tudo
ondas que sugam que arrebatam e destrói
ondas levam
ondas lavam
ondas lambem
ondas com o vento dá ao mundo movimento de ir e vir
pra que nada seja estável
pra que tudo seja intenso

elementar,
é a esquina
do encontro
do rio com o mar...

.

31 de janeiro de 2009

. nascer do pôr .

.

cum as istrêla nus ovído
canção nos zóio cheio d'água
cumendo os sonho sem sintido
lambendo as rima das palavra

a noite vai pesando os zóio
a rima sai buscando o sono
o corpo cai desfalicido
adormecendo a madrugada

o céu clareia os passarinho
pousando os canto de orvalho
moiando as fôia
e a noite indo
pra amanhecer novas palavra...

...o vento muda quando o dia
vai clareando o mundo, as água...
e na beirada o mar se acalma
pra receber o dia rindo

.







(pra carol)

. madrugando o madrugar .

.

música nos olhos
estrelas nos ouvidos

o cheiro do tato
paladar nos sentidos

a pele no vento
olhar pela janela

deitar nas palavras
pra fazer sentido

lamber o sonho
sem morder a língua

a madrugada
tem cheiro
de grama
molhada

toalha macia
secando
o banho

na madrugada
comer a música
ouvindo o sono

cheiro de verde escuro
gosto de fruta fresca
dança de passos
laaargos

madrugada
é palavra macia
de morar nos olhos

madrugada
madrugar

a pele fria
p r o i b i d a


sem frio

coisas de amor
não compreenda,


.

14 de janeiro de 2009

. dos silêncios... .


.

dor de palavras empacadas na garganta

cego
de olhos que vagam
rasos
em sentidos desfocados

.

4 de janeiro de 2009

. cabeça: manicômio dos pensamentos .

. buraco sem fundo . você chega na ponta . na quina do abismo . e ao pensar se cai ou não . você se depara com o "já estar lá" . flutuando no vácuo . na possibilidade do imprescindível . tentar entender tal abismo não adianta tanto . não há o que entender no eterno desconhecido . não há o que entender em qualquer lugar . na verdade o que parece importar flutuando no vácuo . é sentir o corpo cair . se permitir espatifar no fundo do que não tem fundo . buraco negro . sem entrada . sem saída . flutuar é o que permite saber . saber sem entender . básica diferença entre entender pra saber . até porque se nada se entende . nada se sabe . se nada se sabe . o que há pra entender? . entender não muda nada . você já está lá . flutuando no que não termina .

. das bocas que se fazem de tear .

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São só palavras
Tolas palavras
Ditas em vão
Nos vãos das letras
Que pra ser palavra
Carrega os silêncios
Dos vãos e das mãos
De emaranhadas letras
Que seguem no vento
Que voa sedento
À procura do acontecimento.
As palavras
Simplesmente
Acontecem.
As palavras tecem.

.

. dos silêncios .


. ... . dos silêncios... . de tantos deles... . há o que atordoa as idéias... . é o silêncio que faz parecer que o mundo pára de girar . que o vento pára de voar . as pernas estremecem num chão que não parece seguro . e tudo pára tanto . que até o tempo pára... . é um silêncio sem paradeiro no corpo . sem nitidez de realidades . sem nitidez de nada . porque até os olhos embaçam . silêncio de primeiridade . de ser tocado pela palavra que dói quando dita . fazendo suas palavras se perderem pelo corpo . pra fugir da boca . porque não se sabe onde dói o silêncio de faltar palavras . o silêncio de nada se dizer porque o corpo trava . pára . estagnado com palavras que não se quer acreditar . e tem coisas que são difíceis de se acreditar . mesmo quando já sabidas . mas escondidas . em palavras disfarçadas de silêncios... . dos silêncios... . de todos eles... . o pior... . é o da palavra embaçada em suas mentiras... . ... .

2 de janeiro de 2009

. que nem balanço no quintal .

. leveza . quando o existir se faz na dança . nos tons . na musica que dança no aconchego dos ouvidos . carente de palavras macias . carinho bom de se fazer na pele . é o cheiro de jasmim entrando pela janela . é a brisa . é o sorriso da criança aprendendo a loucura de crescer . do velhindo aprendendo a dureza de esperar . banho de água morna . café com leite na varanda ao entardecer . a onda chegando mansinha na ponta dos dedos do pé . boiar na beirada do mundo . a mão pra fora da janela tantando prender o vento entre os dedos . são os dedos mergulhados na lama fria . catar conchinha e pedras na beirada do mar . é cafuné de avó cantando musica de dormir . mesmo grande . ser pequeno . leveza é aconchego dos braços em abraços que se firmam no sono . é a conchinha do sonho . no colchão apertado . é se apertar pra estar mais perto . pra entrar mais dentro . é o barulho da copa da árvore que parece longe . mas que fala do vento . que fala do tempo . que fala do mundo . que fala... . carinho na nuca enquanto bocas se beijam . é o parar pra ficar olhando a cor da pupila . o sorriso do silêncio confortável entre a pele e a pele . e a pele é tão leve na dureza do corpo . e ela cobre o corpo inteiro . pra fazer carinho . pra fazer carinho em si mesmo . porque é bom o carinhar a si mesmo . de todas as formas se fazer carinho . ser assim só de mansinho . ser . leve . na doçura de carregar o peso de si mesmo . embalado no movimento da pele . movimentomoveovento . como a pena caindo no chão . leveza é não ter os pés no chão . movimento de ir e vir . que nem balanço no quintal .

1 de janeiro de 2009

. o novo ano que vem foi bom... .

. 31 de dezembro . o último dia do ano. acordei sem vontade alguma de pensar no que eu faria no dia que eu faço sempre a mesma coisa . fiz o que fiz . desejei o inesperado . e a tarde começou singela . o último pôr-do-sol do ano que vai acabar em poucas horas foi bonito . os prédios estavam bonitos . as paredes . a luz alaranjada entrando pela janela pintando temporariamente a parede do quarto . uma luz quente e aconchegante invadia a última tarde do ano . varanda é lugar de se falar de tudo . a cozinha é outro . no fim das contas a cozinha é sempre o melhor lugar da casa . nem todas . mas pelo menos falo da minha . no último dia do ano . pensei em repetir o que sempre faço . e faço porque gosto . gosto do amanhecer na praia . de ver a vontade do novo estampado na cara de qualquer um que passa . de qualquer maneira . eu tava falando com mari... é inevitável... quando muita gente pensa junto a mesma coisa alguma coisa acontece . são tantos desejos em jogo . tantos pedidos pedidos . tantas crenças... . em uma data . em um momento . o mundo ta dando uma volta por inteiro . girando em torno de si mesmo . deixando de ser pra ser outro . movimento . rotação . translação . e no final das contas.. ele continua o mesmo . mas esse ano novo que vem pensado ainda no velho ano que vai... foi bom . ele foi inusitadamente inesperado . ele foi inesperadamente rico de desejo . desejo de tudo . de dança . de linguagem . de tempestades . de caos . de alegria . de intimidade . de banhos conjugais . de danças e espelhos . porque é bom dançar na frente do espelho . é bom ver o movimento do corpo que no espelho se reconhece . ou se desconhece . e por conta disso . o desejo é o de suor no corpo . é o de dança . o de arte . assassinato de palavras sagradas . que tudo seja dito . que tudo seja feito . que tudo seja intenso . que tudo seja rotativo . que gire ao redor de si mesmo e se reconheça . e se desconheça . e se movimente . o novo ano que vem que foi há poucas horas . foi exatamente como eu desejo que seja o ano que vem . que o mundo abrace sua loucura . que a boca solte o verbo . que o corpo se desconstrua . que todo dia seja fim de ano .