18 de junho de 2010

. traços reticentes .


O desenho, assim como outras formas de exercer a comunicação, pode ser uma resposta ao que o mundo nos pergunta e uma pergunta às respostas que o mundo nos dá. Escrever, desenhar, pintar, fotografar... dizer algo, é simplesmente entrar em contato. Dividir experiências, somar afetações. Exercício árduo o de ter a arte como dispositivo de linguagem. Compartilhar sensações, sentimentos, pensamentos, intuições... dar de si ao outro e receber do outro mesmo sem consciência do fato.

Eu gosto do que não tem borda, do que não se define nitidamente, porque dá continuidade ao traço, ao enquadramento do que foi fotografado, ao texto com meias palavras ou palavras reticentes. Gosto do que passeia pelas entrelinhas da arte. Porque pra mim, a arte não está aqui ou aí pra explicar algo ou simplesmente definir-se como coisa. Ela simplesmente mostra mundos. Não pretendo falar de mim nos traços que risco, nas fotos que tiro ou nas palavras que escrevo. Não busco verdades na arte. O que busco, talvez, seja a continuidade do outro contando sua história na minha, contata junto à historia de tantos... Palavras abstratas sem sentido... que sentem mais do que pensam.

Acho que pintar no papel é diferente de pintar em uma tela de um quadro, assim como num tecido. A tinta faz diferença, a superfície também. É como fotografar analógica e digitalmente. É como cantar com ou sem microfone para um público ou no banheiro. Não sei...

Tento falar dos meus desenhos como quem fala de algo palpável... mas não consigo ter objetividade pra isso. Não sou precisa quando se trata de arte. Na verdade, acho que não sou precisa quando se trata de qualquer coisa. Mas sei que existo nela, com ela e por ela. Não sei definir arte... na verdade acho que não sei definir nada... assim como não sei definir os desenhos que faço. Sei que gosto de textura e degradê. De curvas e de retas. Sou detalhista e perfeccionista... e sim, sofro um pouco com isso... mas não costumo jogar os desenhos fora, costumo começar com traços leves e depois definir mais o traço com maior força no lápis. E se não gosto, apago...

Meus desenhos às vezes são reticentes. Às vezes silenciosos, mas ás vezes eles gritam... Sei que gosto de movimento, e às vezes, meus traços parecem dançar na superfície em que ganham consistência viva de uma palavra qualquer. Não sei bem... A falar dos meus desenhos, prefiro desenhar. Talvez eu diga bem mais sobre eles dessa forma... e a forma que mais gosto é do desenho começado com lápis de cor em folha de textura reciclada... (é... talvez seja a única que eu saiba fazer...) e terminado nos olhos daqueles que se afetam de alguma forma com eles... É como eu disse... eu prefiro coisas que não se limitam em bordas... prefiro coisas fluidas... como coisas que não começam nem termin...

15 de junho de 2010

. ele .

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ele lê nas entrelinhas do meu corpo
o que meu corpo sente sem que eu mesma saiba

ele sabe, desde sempre, que as curvas
em que me deleito, se deitam tortas no meu leito inerte

ele vive, como eu, uma vida silenciosa,
tão silenciosa com seu exagero de palavras

ele vê, se embaçando com seu olho esquerdo
o olho direito se embaralhando todo...

é assim... e assim... ele não assina
o que assume quando some dentro de si

mesmo


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