30 de dezembro de 2008

. ontologia de merda ou... retrato do artista quando caga... segundo gabi .

. chega de poesia . por hoje eu quero falar de merda . é... . é de merda mesmo . de todas as merdas possíveis existentes . eu poderia falar por exemplo da merda produzida no intestino . pra um bom entendimento é bom que fique claro minha relação com meu intestino . e a porra do meu intestino não funciona direito... . ando cagando pouco . a merda fica presa . a barriga dura e inchada . acimentada . a pele fica espeça . áspera . na espera da merda sair . e a merda no intestino às vezes teima em não querer sair . fico sem tirar pra fora o que boto pra dentro . entupida . empanturrada . pesada . e me sinto uma merda . tá tudo uma merda... . o mundo anda com o intestino preso . preso de tanta coisa que a boca engole . engole sem mastigar . vomitando tudo por inteiro . nada é digerido direito . eu mesmo... . moro em cima do esgoto . e as vezes na procura de um ar pra respirar . eu sinto o cheiro da merda subindo até a janela . coloco a merda do cheiro da merda no pulmão . faço aquela cara de azedo . fecho a porra da janela . e volto . ainda mais sem ar . é claro . é uma merda isso... . fico mal-humorado pra caralho . e o mundo vira a maior merda do mundo . mas também . vou te contar viu? . o mundo ta uma bosta . vou sentar na varanda do meu apartamento que fica em cima de esgoto e vejo um mundo de merda . pessoas de merda passando pelas ruas . todas . cheias de merda dentro do intestino preso . dentro da cabeça de merda que todas elas carregam caminhando pelas ruas... . é... . eu disse... eu fico num mal-humor do caralho... . mas enfim... . as ruas tão uma merda sem tamanho também . ce já parou pra olhar o tanto de carro fazendo barulho? . um competindo com o outro quem chega primeiro à lugar nenhum? . desfile de merdas ambulantes dentro dos seus carros de merda e pensando um monte de merda dentro do carro . seja ela a merda que for . só pra variar um pouquinho... . o céu ta lindo hoje . azul de primavera . as nuvens brancas . pinceladas . sei lá... . minha contemplação diária desse azul aí durou por muito pouco tempo hoje . fui interrompido pelo cheiro de merda que subiu do esgoto . daí parei de olhar o céu . olhei pra baixo . e ao lado do meu prédio tem um terreno baldio... . vi um cara lá mudando a propaganda do outdoor . vi também um menino e uma menina entrando no terreno . fiquei olhando o cara do outdoor olhar os dois que entravam no terreno . da pra ver tudo da varanda . ele pára de colar os pedaços lá da imagem . e olha . lá de cima . os dois caminhando . e eu . olho daqui o cara de lá olhando . o casal se sentou no canto . do lado de um arbusto . e começou a fumar craque . pelo menos parecia que era... . e o cara do outdoor . voltou ao seu trabalho que é ficar em cima da escada pregando a imagem do outdoor na esquina . fiquei esperando o cara terminar de colar a mais nova maneira de se vestir . é uma mulher... . uma mulher loira com cabelo de laquê . segurando uma bolsa de couro vermelha . um batom vermelho . da cor da bolsa . pra combinar . e o nome da marca e da loja bem ao lado do seu mais novo objeto de consumo do mercado . e duas mulheres passam olhando o outdoor recém-atualizado . fiquei imaginando o que as duas mulheres pensaram . e pensei que pensar o que elas poderiam estar pensando . é pensar o que eu penso . e eu penso que o mundo hoje com meu intestino preso anda uma merda . ahhhh... vai me desculpar... mas vai dizer que você nunca teve um dia desses? . vai dizer que seu fluxo intestinal é perfeitamente eficiente? . já parou pra pensar como a merda no intestino influencia no humor dagente? . talvez . se eu não estive como estou hoje . não teria nada de mais a mulher da bolsa vermelha e dos lábios carnudos estar ali . estática . na minha frente . sorrindo pra mim . parecendo uma boneca . uma dessas aí . sem vida . sem desejo pulsante . às vezes o bom mesmo é abstrair as coisas, viu? . se o mundo todo ta uma merda . não vai mudar muito a merda que eu cago ou deixo de cagar . sei lá . é uma merda não poder fazer nada . ou fazer e saber que vai ser pouco . mas até que tô mudando algumas coisas . mudei a alimentação . mudei o ritmo dos dias . agora me canso é de ter o que fazer . há pouco era o contrário . o cansaço era de não fazer nada mesmo . de todo jeito... . pelo menos minha merda agora sai colorida . to comendo muita salada . legumes . beterraba . cenoura . alface . couve . milho . repolho . tomate... . dá pra imaginar? . consegue visualizar uma merda saindo toda coloridinha? . é engraçado... chega a ser “bonitinho” a merda lá... . boiando na privada . que nem aqueles penduricalhos que se colocam em cima do berço do bebê . pra lá e pra cá na água da privada . as vezes eu paro pra olhar a merda que faço e fico hoooras imaginando do quê que é a cor do que sai na merda . fico pensando no que ando engolindo ultimamente . e ultimamente ando meio intolerante com as coisas . às vezes . escondo até capa de revista na fila do supermercado . me irrita ver as imagens do mundo . me irrita o papel da mulher inquestionável . naturalizado . e fielmente obedecido . pelas mulheres (e não-mulheres) que passam olhando as imagens como se não quisessem nada . olhando simplesmente porque é aquilo o que se coloca ali pra olhar . daí passa a menina de 7 anos olhando . e pensando no que ela vai querer ser quando crescer... . capa de revista, oras! . daí passa o irmão dela de 9 anos e olha pra imagem da mulher e das mulheres que por ali passam todo dia . toda hora . porque não sei que porra é que ta todo mundo toda hora no supermercado... . e passa o cara de 25 . de 50 . não importa . não importa muito a idade . em qualquer idade a merda é sempre merda . ela é aquilo que o corpo rejeita . ela é aquilo que às vezes dói pra sair . às vezes sai fácil demais também . é uma merda ter vontade de cagar numa hora inconveniente por exemplo . mas falta de privada agora já não é mais problema . aprendi a cagar em qualquer lugar e o único pré-requisito é o obrigatório papel higiênico . e com as privadas que se cruzaram comigo nos caminhos desse mundo de merda . tive que me obrigar a aprender a cagar em pé . é um exercício de equilíbrio desgraçado . tem que se concentrar na posição das pernas . no apoio das mãos . e com a calça que você abaixa pra não ficar encostando no resto de merda dos outros grudados na privada mal lavada e que também não pode enconstar no chão imundo do banheiro. mas o pior não é nada... . é quando você nessa situação que parece não ter nada pior . se depara com o banho da merda caindo na água da privada e molhando sua bunda . o desespero é de não saber o que se fazer numa situação onde você tem que se concentrar na posição que você está . na merda que ainda não acabou de sair . e na bunda encharcada com aquela água nojenta da privada . e você se sente uma merda sem tamanho . você só consegue pensar: “PUTA QUE PARIU! QUE MERDA DO CARAAAALHO!” . daí você já começa a suar nervoso e entra numa crise existencial filadaputa do tipo: “limpo minha bunda agora ou termino de cagar?” . e aí vai de circunstância a circunstância, meu amigo... . um dia você limpa quando pode . um dia você limpa logo tudo depois que amerda acaba . porque além de tudo . tem sempre o risco do banho na bunda não ser só um . ainda tem isso... . às vezes eu paro pra pensar o que será que é pior: cagar demais ou de menos? . ou ainda: bosta dura e grandes daquela que quando sai parece que ta rasgando o cu ou daquelas que tem consistência de mijo e que arde quando sai? . é um saco ter um intestino complexo . é um saco trabalhar com coisas radicais demais . é claro que o melhor não é nenhuma das duas opções . bosta boa é a que dá prazer de cagar . isso é fato... . o fato é que talvez muitas pessoas nem saibam do que consiste a própria merda que cagam . e isso é uma merda também . porque o que não falta nesse mundo de merda... é gente fazendo merda o tempo todo .

29 de dezembro de 2008

. carta à alguém muito distante .


dias distintos dos meus dias... tô sozinha... mas não solitária... silenciosa vagando pela casa... escrevo... danço... leio... em silêncio... é como estou nesses dias... treinando os sentidos acomodados pelo vício da fala... descobri que quando sozinha é a hora que mais falo... falo demais comigo mesma... rio... gesticulo... choro... mil perguntas mil respostas... todas minhas e pra mim...
a saudade ta roendo os ossos... a família está longe.. lá longe... onde geralmente me encontro em casa... e eu fiquei aqui.. sozinha em casa que não me sinto tão em casa assim... reveillon vou passar sozinha... presa no apartamento... em silêncio... ordenei que da porta pra dentro nenhuma palavra pode ser dita... e se alguém vier aqui... só entra se for calado... é difícil treinar o silêncio... as palavras pesam quando não ditas... e ando me sentindo leve no passar das horas dos meus dias... experimentando dias calados... solitários... cheio de silêncios... cheio de vazios... permiti que a loucura entrasse porta a dentro... e ela ta aqui comigo me botando no colo...
nesses dias de exercício do silêncio me encontro escrevendo muito sobre saudades...
e mais que silêncio... saudade é o que mais tenho.


feliz ano novo...
feliz dias novos...
e que tudo se renove a cada dia, todo dia, pra que nada seja o mesmo...

. páginas em branco .

. há dois dias . se não me engano . o que não é muito difícil... . enlouqueci... . ditei as novas regras da casa: aqui ninguém fala . nenhum som . nada pode ser dito aqui . estipulei o tempo de um silêncio obrigatório . e assim fiquei bamba . assim fiquei . aqui . sozinha . sem as palavras . são tantas coisas aqui dentro . numa turbulência tão intolerante . que me pus sem palavras . as palavras morreram . saíram por aí . livres e bambas . pra conhecer outros lugares . o silêncio não faz de mim lugar-comum . o silêncio desaparece cotidianos . não é o fato de faltarem palavras . sou feita delas . da cabeças aos pés . mas resolvi me virar ao avesso . o avesso dos dias . das noites . de todas as madrugadas . foi proibido qualquer exercício que não seja aguçar os ouvidos . e os olhos . e a pele . do corpo todo . por inteiro . quebradiço . como o silêncio . silêncio não é . definitivamente . a ausência de palavras . elas vão pra todos os lugares e estão sempre aqui . ao mesmo tempo . enclausuradas em mim e livres de mim . a boca agora se permite abrir pra outras coisas . a garganta agora vibra adormecendo as cordas vocais . não é que eu tenha perdido a voz . a voz está aqui . não desafinei minhas cordas . não me quebrei . apenas me ausentei no silêncio . e em silêncio . o mundo se faz barulhento demais . nada se escuta de tanto barulho . e nada se fala mais . é que são tantas palavras . e o silêncio me lava . me faz espuma . frágil e leve à procura do estouro . a procura de explosões . e me desfaço . por todas as partes . e em todas as partes . vibro . como choro preso na garganta . me torno o grito que não quer sair . ou até quer . mas estipulei as regras . ditei um outro modo de explodir . se engana quem diz que o silêncio não pesa . ele parece carregar todas as palavras ao mesmo tempo . todas . uma em cima da outra . toneladas de desejos destinados a morrerem na garganta . matei as palavras apenas provisoriamente . de loucura provisória ando me alimentando esses dias . porque até que o silêncio passe . a loucura ainda vai se hospedar por uns dias . bem vinda . acolhida . recolhida no aconchego de silêncios menos vazios que as palavras que não digo . é isso . apenas isso .

. páginas .


. é estranho não saber distinguir . onde as coisas começam . onde as coisas terminam . as coisas se misturam . fluidas . moles . movimento de rio mesmo . passa . vai . alinha um caminho que a cada passo se modifica . torna-se outro . outros . tantos . compassos . o que me resta é passagem... . e passagem de ida . é estranho perceber . que se morre a todo tempo . que se mata a cada dia . e minha loucura tece a vida de maneira tão insólida . que nem me preocupo se o insólido existe . de toda maneira . a crença é de que as palavras . se é que elas existem mesmo . são inventadas . criadas . usadas como corpo dia-a-dia . e as palavras . nos dias que se passam . como um rio . se tornam o motivo de acordar a cada dia . de maneira ou de outra . as palavras atuam dentro da boca . a palavra voa . vai . e venta . inventa um conceito qualquer de existir . e o corpo . domesticado em suas palavras . obedece o que a palavra significa . eu não sei se as palavras vem de dentro . eu não sei quais palavras definem minha loucura . mas a loucura tece... . tece as formas de maneira imprecisa . impiedosa . e viver . se torna palavra . e viver . se torna impreciso . viver se torna o que a palavra dita . e elas acabam por ser o que me resta pra acariciar minha loucura . o corpo tenta de toda maneira entender o silêncio . entender o que o silêncio dita . é como se as palavras se tornam-se a ditadura do corpo . e tudo . todas as palavras precisassem ser ditas . munidas de seus mais variados sentidos . indo . em todas as direções . sendo inevitavelmente interrompidas . não interessa o traçar dos caminhos . as palavras sempre chegam . sempre outras . nunca a mesma que sai da boca . nunca a mesma que entra . mesmo . em mesmas letras . entenda... não entenda nada . é o que elas dizem . a todo momento . em todo silêncio . entenda... nada é o mesmo seja lá o que isso significa . entenda... são só palavras . tolas palavras . sons que rasgam os ouvidos . desenhos que furam pupila . o que existe . me parece . é a pele . e a pele pede o tato . a pele pede o outro . e num sentido desgovernado . o corpo vai voa e venta . como as palavras,

. desculpa... não entendi .

.

o mais bonito da fumaça é o silêncio
o mais bonito da palavra é o avesso
o mais cruel das ordens é o começo
o mais doce em mim amarga
nítida como palavra dita
e certa em meus ouvidos
que estou certa
incerta de mim mesma
e nem me importo com isso
eu vomito sem comer
quando sai de mim é vento...
e invento em mim um novo jeito de comer
eu já não sei o que dói
eu já não entendo
tirar palavras de mim
é amputar-me de mim mesma
como se eu pudesse desfazer-me
tirando de pedaço a pedaço
o que dói imprescindível ao me dizer-me
a pele vira palavra invertida
vira palavra não dita
sem entendimento de palavra
a palavra me dita
como um ditado que repete ditado
sem criar-se
estagnado
atrofiado
opaco
não que as coisas venham de dentro
porque não há dentro
há o vazio
é só o que sei
um vazio que palavra nenhuma se compromete em preencher
as palavras não preenchem nada
não me preenchem em nada
só me deixa cheia
de mim
mesma
ditando palavras ditas em seus ditados
corpos
mortos
presos
viver
se torna
ilegal
criar
se torna
crime
prisão perpétua do corpo
que de maneira ou de outra
simplesmente
obedece
somos indefinidamente obedientes
não importa de onde vem ou como começa a ordem
porque inevitavelmente não somos verbo
somos sujeitos
inativos
nativos de uma palavra inquestionável
indefinível
a vida
não permite o movimento
pois a vida agora é algo
a vida agora afirma
o que meu corpo acredita ser
seja lá o que for
seja lá como eu vou
a pele não sabe onde
acaba
onde
termina
meu corpo
pede desordem
meu corpo impede de eu ir...
praquele lugar distante
que não conheço
não me conheço
nada
é
de
mim
.
.
.


.

21 de dezembro de 2008

. quando o canto é de bom dia .

-...
-é o que passarinho?
-...
-repete o canto e me explica os tons das cores em que se fazem esse amanhacer...
-...
-me faço em prantos a entender em quantos tons me faço ao ver o sol nascer...
-...
-ainda não entendo, por conta desse ouvido humano, por conta desse estar mundano, por conta do buscar saber...
-...
-são quantos? são quantos os cantos em tantos cantos que há o aviso de um novo dia? dançando em si tal euforia de ser outro nesse dia-a-dia...
-...
-que música é essa que se faz em ritos desse grande mito que é o nascer do dia?
-...
-que dança, movimento brusco de tal alegria?
-...
-é que os passarinhos dizem mais que o mundo que invento tanto nas palavras ditas...
-...
-é que o soar do canto desses passarinhos me ultrapassam tanto, que de tanto em tanto comtemplo a sinfonia do se criar a cada dia...
-...
-...é... bom dia!

20 de dezembro de 2008

. sem palavras .

.

meu corpo é uma palavra inexata
que permite embaralhar-se em si mesmo
para não ser dita
as letras em si não importam
e não se importam
o que importa
é a sensação de ver
p
e
s
c
o
ç
o
tornar-se cintura
da faringe tornar-se a
c
o
l
u
n
a
incerta
certa de carregar bem ao meio
uma garganta
com nitidez de umbigo

não faz sentido
eu sei
na verdade
nada parece fazer sentido

mas meu corpo é palavra que não se pontua
mas que pousa no mundo
assim como as palavras
no vento...
e como estas,
meu corpo vai...
sem rumo e sem sentido
fazendo de mim um texto sem nexo
espelho com milhões de reflexos
palavra viva
que se aprende nova
a cada dia
e que aprende todo dia
um novo jeito de ditar-se
meu corpo é ditadura da linguagem
meu corpo se perde em suas margens
não sei onde começo
não sei onde termino
e talvez
seja isso...
não termino nunca...
meu corpo se
dissssssssolve
em
ssssiiii
mesmo
meu corpo
tem o peso de silêncios
forma opaca de gritos secos
presos
na prisão que se faz a pele
com seus poros soltos
intocáveis
como as
l
e
t
r
a
s

.

. sei lá .

. sei lá... minhas ilusões são que há de mais racional em mim .

. caos do porto .


. saudade é cais de um porto vazio de seus barcos . o abraço morto sedento de seus braços . o cansaço do corpo na procura inversa do vazio . saudade é sobra do que fica na busca do incansável . palavra ausente da rima com o indizível . a soma da fome e do sono junto ao frio . é que saudade é desconforto de não ter lugar seguro . incômodo . pigarro de gargantas cansadas de cigarros . saudade é sintoma de tempo que não rima alguns caminhos . saudade é motivo de meus versos... mesmo que nunca tenha rimado muito comigo .

18 de dezembro de 2008

. a arte de fumar .

. a fumaça busca o distante . mostra que as coisas estão fora do alcance . das mãos que tocam o concreto . dos olhos que vêem o abstrato . da mente que crê no inexato . do corpo que segue o incerto . os poros têm textura de fumaça . fluxo contínuo de busca no indizível . formas de desejo do infinito . fluxo . de estar no que se é por tão pouco tempo . ... e tudo é tão pouco... . a fumaça dá formas ao vento . tranforma o invisível do tempo em mais uma palavra . eis a sua rima com o vento . tal qual a sua sina do intocável . é porque a fumaça busca mesmo o intocável . busca o lá . fora daqui . o distante . ...quando o tempo é tédio: fumar se torna a arte de um suicídio lento .

13 de dezembro de 2008

. terapia temporal .

. o tempo resolveu conversar sério comigo . me dizer sobre as coisas que nem o tempo poderia me fazer saber . o tempo se permitiu dizer . sussurrando agudo os gritos que se escondem nos seus dias repetidos. repetidos. repetidos dias... . a rotina desgasta tudo . e tudo desgasta a rotina . a rotina cansa tudo . e na rotina tudo se cansa . longo espaço de tempo . resolveu se enclausurar em seus silêncios . fiquei olhando pro tempo . fiquei pensando no tempo . analisando o tempo do tempo . depois de um tempo... voltando aos dizeres do tempo . veio me dizer que se sente meio só ultimamente . anda deixando tudo passar rápido demais . não tem nem tempo de enrugar as coisas mais . e mais e mais se sente enrugado com sua falta de tempo . o tempo diz não ter tempo de ser . ele não cabe em si . ele não cabe em ninguém . ele não cabe em sua falta de cabimento de ser . porque só é, aquilo que tem tempo de ser . tempo pra ser . e o ser não cabe no tempo . por essas e outras inventam-se passados . sustentam-se memórias . contam-se histórias . é jeito estranho de concretizar o tempo. um tempo sem sentido cronologizado em ponteiros que apontam para o infinito . e nessas horas é que o tempo vem me dizer repetindo que o infinito é um segundo do seu tempo . conversamos um bom tempo . e o tempo se fez bom . o tempo parou ao falar de si . se confundiu . desnorteou . sem precisão se envergonhou . não entendeu não entender-se . coisas que nem o tempo sabe dizer . que não se aprende nem com o tempo . ele disse que odiava a idéia de ser justificativa pra tudo . que ele não quer dizer nada a ninguém . anda furioso por ser mal compreendido . mal entendido . mal passado . o tempo anda pedindo mais tempo . anda cansado de não ter tempo pra nada . desentendeu as metáforas supostas de ponteiros . antes de acabar acabou o tempo . sessão encerrada . tempo encerrado . tempo cerrado . tempo errado . agora... só com o tempo pro tempo fazer passar o tempo .