12 de outubro de 2010

. velhas palavras sempre novas .

. de todo modo . parece que liberdade é o desapego das coisas mesmo... de todas as coisas, sabe? . desapego do outro . do mundo . das coisas que se afirmam como inevitáveis . como imprescindíveis . desapego de qualquer conceito . desapego de si mesmo . dessa idéia de ter que definir-se pra si ou pro outro . deixar passar . porque tudo passa mesmo, né? . de todo modo . pra alguns liberdade nem existe . e eu até entendo... . essa coisa das palavras . dos sentidos que damos ao mundo com elas é das piores prisões, né? . pra todo caso entre os limites e deslimites da palavra liberdade . há quem não conjugue liberdade no tempo . há quem crie liberdade como verbo . e há quem acredite também que liberdade é simplesmente sair por aí sem caminho certo . andando por aí como andarilho de caminhos inexistentes . correndo ou voando . há quem acredite na liberdade como a nudez do corpo . não do corpo biológico . não da ausência de roupa ou qualquer coisa que seja pra esconder o que não se quer mostrar do corpo . mas a nudez de não ter o que esconder . de não temer em mostrar nada . porque ninguém está olhando . ou se olhar que olhe . que olhe e veja . porque há quem acredite que liberdade é não ter medo do ridículo também . sei lá . talvez a maior prisão seja essa: se apegar ao conceito de liberdade . se apegar à liberdade como conceito impraticável . e dizer-lhe como palavra . e praticar-lhe como palavra dita . porque falar é fácil... e por isso todo mundo não para de falar . de todo modo: desculpe a falta de sentidos . mas ando procurando a falta de direção . todas as direções são bem vindas no momento . não importa pra que lado for... .

. só a gente sabia, mais ninguém .

.


. das mortes impensadas . da mistura indiscreta entre as dores e alegrias . das saudades incansáveis . um sorriso leve num corpo cheio de peso . o corpo pesado cheio de vidas . das intensidades . das palavras escritas . um diário . uma música sempre ativa dançando na ponta da língua . um livro marcado dentro da mochila . uma paixão . um amor . uma dança . um samba . um abraço . e muitos silêncios . dos silêncios . rudes silêncios . o da carne morta . depois de viva . depois de vívida . o da pele fria . depois e depois e depois... e depois? . sua cor é pálida . seu silêncio bruto . um ponto e vírgula . um susto . surto de poesia . e depois e depois e depois... e depois? . não importa tanto . o que importa mesmo é o tanto que se vive . nem o tempo importa . o que importa é a intensidade dos atos . a espontaneidade das rimas . o olhar que brilha ainda que cheio de caos . das metades que partem . das metates arrancadas . afastadas . que moem . que dóem . difusos . confusos . lágrimas engolidas pelo riso . e depois... e depois que o que importa é o que você deixa plantado . mais ainda do que o que colheu . porque levar... você não leva nada . e pra lugar nenhum . das vidas abstratas . das mortes concretas . a estranheza densa da simplicidade . da precisão tensa de um termo sem verbo . ...porque viver não basta .

. visita .

.
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. saudade maldade .

.

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.

. sorriso .

. e tao bom descobrir o que se quer fazer no lugar onde o corpo se encontra . e tao bom pousar um pouco em si mesmo . mesmo que ainda se continue voando . sem parar . e tao bom quando as coisas acontecem de uma forma que estica a boca ate as orelhas e deixa os olhos brilhando sem o que ou porque nem pra que . basta isso . acho que as coisas acabam sendo assim . mesmo sendo tudo o que vejo como o vento que sai pela boca em forma de assobio . uma brisa fresca . tao leve em seu peso de dar voltas e voltas como a vida . acho que tem palavras saindo pela boca em forma de coisa palpável . acho que e a vida avisando alguma coisa pra ela mesma . ai sei la... vou parar de escrever nada com nada e voltar a desenhar . acho que encontrei uma estrada pros meus pés caminharem saltitantes .

. é? .

. dizem que o mundo é redondo... mas eu nunca vi... .

. nankin na água .

.

e que tudo seja como o que se dissolve na água
como o que se dissolve em si mesmo
pra que tudo seja como o tempo
ilusório
transitório
escorregadio
passando tão rápido
que nem mesmo tem tempo de acabar

obrigada a falta de sentidos

.

. pedrinho .

. porque essa coisa de ter alma grande é pra poucos . de ter palavras maciças passeando na boca . de ter a palavra escrita como âncora pro mundo . de ter o mundo como palavra com nitidez de caos . de ter a vida como algo que não se tenha . porque ela escapole das mãos . de ter o ato como poema . mesmo que sem rima . mesmo no silêncio . mesmo que sem tema . a palavra por si só já basta na extremidade das mãos . por coisas extremas . das coisas estreitas . no meio de entranhas . estranhas palavras . porque essa coisa de ter amor demais é pra poucos e mais poucos ainda . porque amor não é coisa que se sinta com a cabeça não . por isso escrever sobre amor é quase impossível . palavra imperecível que mora no meio dos poros . nem importa muito, né, pedrinho? . o que importa de verdade na verdade a gente nunca vai saber mesmo... . talvez seja isso . um sorriso se abrindo no vento ... . lento . atento . pro corpo se encher mais um dia de palavras vivas . sempre pronto . pra mais uma poesia .

. emtempos .

. noites a fio . fio da meada . cada segundo . uma hora passada . um traço . uma vida . uma história contada . juntando palavras . formando uma estrada . fantasia . miragem . tudo . não . passa . de . uma grande . piada .

. um segundo .

.


era uma vez

uma historinha

muito boa de contar...

ela começa exatamente

na hora de terminar


.

. sonho .

. ter pés firmes no chão ás vezes ajuda a voar .

. pra lai .

.


eis a casa dos cachos,
da bandeira pernambucana pregada na parede da sala,
do varal com 37 calcinhas penduradas, de todas as cores, tamanhos e formas,
da louça lavada a base de risadas,
do radinho com músicas que cantam aquela saudade,
todas elas,
porque é ela, a saudade, que sempre vai... acompanhando os passos,
embaraçando os cachos...
é a saudade que varre a casa,
que empoeira o colchão,
que venta fazendo zumbido na janela da sala,
dos quartos,
é a saudade que suja a roupa,
que lava a roupa,
que estende as coisas no varal,
sobe e desce o elevador,
sai e entra pela porta,
é a sadade que pinta e borra os desenhos abstratos,
a saudade beija, abraça, desconfia, ri, embebeda e dorme em cada fio de cabelo...
em cada curva do corpo,
em cada ponto das horas...
é a saudade que deseja a viagem,
é a saudade que viaja e deseja...
é a saudade que se perde nas ruas da cidade desconhecida de desconhecidos perdidos pela cidade,
é a saudade que pega carona,
que olha com olhos abismados o novo, ou o velho que se torna novo, de novo...
a saudade vai e fica...
adormece e amanhece intocável em sua condição de saudade...
a saudade tece...
enraíza e cresce enfeitando as palavras,
criando os dias,
saudando as novas alegrias...
a saudade nasce, vive, não morre nunca...
e saudade é palavra que nunca esquece...
que jamais esquece.



. suor .

.

o universo

transpira
suspira
expira
inspira

quando o corpo
conspira
à favor




.
.
.

. às vezes, insônia é bom .

. é possível que se confunda o que seja poesia . é possível até que poesia não seja nada do que parece ser . tudo é possível em poesia . porque dizem que ela vem do caos . dizem que ela vem do abismo de si . dizem que é uma questão de sentir . de tocar não só com a pele . de ver não só com os olhos . e principalmente de calar . eu não acho que a poesia vem pra dar beleza as coisas não . acho que a poesia vem pra te fazer vomitar . vem pra te fazer se confundir . vem que nem murro no estômago . poesia não rima com delicadeza . nem necessariamente com tristeza . mas acho que poesia é concretude de ironias . de sarcasmos . essa coisa toda que dói sem nome justamente porque parece não rimar . até porque poesia não tem que rimar . poesia vai além das palavras . dos sentidos . de qualquer coisa . sei lá . poesia talvez seja não saber . não saber de nada . nem onde pisar . é não ter casa . não ter roupa . não ter o que comer com fome . não ter aonde se confortar . não ter razão . e mesmo assim continuar... . continuar a fazer o que o corpo já não aguenta mais . acho que poesia é ver a dor doer . é sentir por onde ela passa . é olhar e ver . até se sufocar . até que na vertigem o corpo caia em si e seja outro . acho que poesia é cutucar ferida . pra ver até onde o corpo aguenta . acho que poesia realmente não quer embelezar nada não . pelo contrário . mas também pode não ser . e nem me importo . o que me importa é que a poesia vem pra dizer que a vida não mente . tendo razão ou não . a vida não disfarça . não há tempo pra farça numa coisa que dura tão pouco tempo . o tempo de um sopro . um segundo de infinito . nem importa . porque poesia existe ali independente . poesia é . e isso é coisa que gente não saber fazer . gente finge . usa utensílios . dispositivos de ação . de atuação . é isso... . gente atua o tempo todo . todo mundo . gente interpreta . coisa que poesia não faz . poesia não quer dizer nada . não quer dar significado às coisas . ela não se preocupa com questões de entendimento . a questão é justamente não entender . porque entender a dor não faz ela passar . a coisa toda fica guardada nas vísceras... . poesia é o sangue que sai fedendo pela boca quando se recebe um murro no estômago . mesmo que poesia não seja nada que entre ou saia porque ela já está . lá . entre tudo . todas as coisas . mas é que eu acho engraçado falar de poesia como algo que se entenda . como algo que se busque sentido ou significado . a poesia se escreve . se inscreve . por ela mesma . se desenha indefinida sem contornos no vento . poesia vai . não sai de dentro . não se captura . poesia não é lugar . muito menos lugar seguro de pisar . porque poesia não se pisa . é ela quem pisa em você . não importa mais uma vez . é que de vez em quando é bom divagar . devagar . mas indo simplesmente . pra lugar nenhum . pra nenhum lugar... . mais uma vez: obrigada a falta de sentidos ,

. nonó .

. ela é assim . essa coisa de evitar falar e estar sempre cantarolando . de estar sempre observando o mundo a girar pela janela . captar as cores do dia . sentir as coisas o dia inteiro: em sua quietudo do corpo . não sei . ela tem o dom de dar sabor especial às comidas que cozinha . de se guardar no silêncio do que acredita . de ouvir a vida . de fazer qualquer pedaço de terra um jardim fértil de alegria . cores de flor com cheiro de janela . de flor em flor . uma força doce e singela . ao mesmo tempo amarga e madura . ela dança . com as mãos na cintura . brinca de criança fazendo careta . ela caminha pelas ruas encontrando em cada esquina os sentidos de seus mistérios . e ela é rodeada deles . às vezes penso nela como o cheiro suave e forte de um cravo . de uma beleza singela de doer no olho da pupila . ela é linda . ela canta fino como passarinho . ela voa plena em si mesmo em suas infinitas histórias... .

. bla .

.

um pedaço de luz
um cravo uma rosa
um dedo de prosa
ontologia poética
de palavra em
palavra
uma estética
ética redundante
silêncio mudo de a l t o f a l a n t e
corpo estático em seu êxtase
fase da fase da fase da lua...
uma esquina uma rua
palavra de frases que se repetem
eco do eco do eco de mim...
abismo de nada
à procura do sim...
.
.
.

e cu centrismo .

.

na esquina
do centro do mundo
com
o centro de tudo
mora o umbigo do cu



.

. dona do meu amor .

.


ela tem medo de altura e não sabe nadar
meu amor pousa nela,
vai voa e volta pra com ela ficar

ela não sabe nadar, e tem medo de altura
pés no chão
chão nos pés
pouso firme pra aprender a voar
ela tem medo de altura
medo de altura

vem, lai
eu seguro sua mão
envolvo sua cintura
fecho os seus olhos
pra gente cair
voar
e sorrir
num abismo qualquer
no abismo de si

ela tem medo de altura e não sabe nadar
eu te ensino a cair
e te faço boiar

porque você tem medo de altura
e não sabe nadar
mas não importa,
não importa mesmo...
você sabe sorrir
tem o dom de sonhar

e meu amor em você pousa
sem pressa
e na altura que for
bem fundo
e nadando sem ar...

não importa


ela sabe sorrir,
ela sabe sonhar...


.

. eu e ela .

.

ela diz que adora essa vida de pessoas amontoadas.
de paisagens enquadradas nas pequenas janelas de aluminio. e de horizonte entre os prédios, mais parecendo uma luz no fim do túnel.
dia que o horizonte fica estreito ou feito pelo 16º andar do prédio em contato direto com o céu.
a praia, de tão inacreditavelmente infinita e bela, parece mais uma foto macro. é que o mar fica diferente quando visto fora do quadrado da janela.
ela ainda diz que gosta dessa vida de pessoas amontoadas e solitárias. que é um monte de gente sozinha junta.
e que precisa mostrar que não está só pra todas as pessoas que pensam a mesma coisa ao redor.
ela adora janelas.
e mais ainda de portas que ainda te levam pra outro lugar...


eu não sei... eu acho que gosto de horizontes largos.
de céu que a gente vê sem ser partido em pedaços possíveis com o que cresce tão alto desse chão que a gente cria.
não, eu não gosto dessa visão que tenho da minha janela... pessoas entediadas em suas janelas... vidas enquadradas em pedaços quadrados de alumínios.
não, eu não sei se gosto de vidas amontoadas em cima da outra e do lado sendo sufocadas por tanto concreto.
não, eu não gosto de construções tão humanas assim... eu não gosto de tanta solidão junta... prefiro as coisas pequenas, as cidades vazias, vazias de prédios grandes, vazias de fantasias e modas e quaisquer modernidades, vazias de barulhos, de buzinas, de batidas, de gritos, de gente... vazias de solidões aparentes... é que eu acho que solidão não tem lugar... solidão tá é dentro d'agente... mas sei lá... é que é estranho você se sentir sozinho no meio de tanta gente... tanta gente no mesmo lugar... sem caber... sem se caber em si... tanta coisa... tanta janela... aberta pra solidão da janela entreaberta do outro... não... eu não gosto do horizonte como paisagem... gosto de estar nele... não gosto do mar sendo visto da janela do décimo sexto andar.. gosto de estar nadando nele e de fazer parte de seus movimentos... não... eu não sei...já me basta amontoar palavras em qualquer coisa que seja... textos como edifícios de letras solitárias... já me basta amontoar as roupas numa instante com alguns andares... não... não sei... não gosto de solidões criadas... construídas a base de cimento fazendo concreto o tédio de ser essa cinza e abstrata paisagem... eu gosto do silêncio consentido entre pessoas que se falam quando se olham passando pela rua e porque se conhecem, que não resumem a comunicação ao educado "com licença" porque não há mais lugar na calçada para pedestres apressados para não viverem a vida ou as informações que te restam pra que se cheguem a qualquer lugar... onde haverá mais algumas milhões de solidões andantes guardando um silêncio apenas educado... eu não sei... prefiro as casas de palha, ou de madeira que recebem a cidade inteira para um cafezinho... da janela do meu quarto eu escuto as milhares televisões ligadas... todas acompanhadas por solidões programadas e canais específicos, engavetados, enjaulados, de portas fechadas, trancadas e cheias de medos... não... eu não... .

. iso .

.



convergir
divergir
inverter
inventar

alegria tem consistência de espuma

e a função da boca é realmente o sorriso

felicidade tira o sono

sonho com consistência de riso


sei lá



.

. trans borda r .

. é que não me interessa muito o porquê das coisas . a consistência que as coisas parecem ter . ou o peso que elas admitem levar . nem tanto os rumos que essas coisas possam parecer alcançar . não me interessa muito a verdade ou a mentira que dão consistência a tudo isso que se vê . não me interessa os sentidos . não me interessa onde . quando . com quem . como essas coisas se dão . se as coisas são reais ou não . o que me interessa são as coisas que transbordam .

. isa dor a .

.

as cores de isadora
são como
uma brisa fresca

uma cor intensa

um sorriso agudo
verso mudo
de um poema

leve

palavra suave
de dançar lento
no ouvido

música feita de vento

mãos de agarrar o tempo

...nem importa...

. porque viver não basta .

. das mortes impensadas . da mistura indiscreta entre as dores e alegrias . das saudades incansáveis . um sorriso leve num corpo cheio de peso . o corpo pesado cheio de vidas . das intensidades . das palavras escritas . um diário . uma música sempre ativa dançando na ponta da língua . um livro marcado dentro da mochila . uma paixão . um amor . uma dança . um samba . um abraço . e muitos silêncios . dos silêncios . rudes silêncios . o da carne morta . depois de viva . depois de vívida . o da pele fria . depois e depois e depois... e depois? . sua cor é pálida . seu silêncio bruto . um ponto e vírgula . um susto . surto de poesia . e depois e depois e depois... e depois? . não importa tanto . o que importa mesmo é o tanto que se vive . nem o tempo importa . o que importa é a intensidade dos atos . a espontaneidade das rimas . o olhar que brilha ainda que cheio de caos . das metades que partem . das metates arrancadas . afastadas . que móem . que dóem . difusos . confusos . lágrimas engolidas pelo riso . e depois... e depois que o que importa é o que você deixa plantado . mais ainda do que o que colheu . porque levar... você não leva nada . e pra lugar nenhum . das vidas abstratas . das mortes concretas . a estranheza densa da simplicidade . da precisão tensa de um termo sem verbo . ...porque viver não basta .