19 de abril de 2009

. quê? .

. penso como é frágil se deixar levar pelas palavras . penso como é denso querer ser palavra no mundo ditado por elas . penso em palavras . com palavras . e, às vezes, acredito eu... que pelas palavras eu penso . penso muito . e penso tanto... que penso que um dia ainda enlouqueço caminhando pelas entrelinhas das linhas das palavras que voam ao vento . penso que as palavras inventam o mundo que invento . penso que o corpo é casa de palavras . assim como os livros . mas a diferença é que os livros guardam as palavras dentro . e o corpo não tem dentro . pra palavras não existe epiderme . porque as palavras caminham entre os poros . correm lentas vagando entre os vasos . rasos e frágeis como a palavra que carrega . a palavra inventa o corpo . a palavra dá poder ao corpo . submete o corpo aos poderes das palavras . as palavras são ações do corpo . são as suas relações . e a palavra é livre e passageira . a palavra sai da boca . sai das mãos . sai dos olhos . da pele . e vai de passagem com o vento . e vai pedindo passagem . pedindo pra passar por todos os poros . pra carregar com o vento todos os cheiros que o corpo inventa em seus sentidos . o corpo pedindo direção se desorienta . perde o rumo . perde o chão . vai em vão caminhando entre folhas em branco . é que folha em branco pode ser asa ou prisão . folha em branco as vezes diz bem mais que folhas cheias de palavras . é que as palavras repetidas pelo corpo ganha sentido de cimento . de coisa que se faz e se finca . fica presa entre as entrelinhas dos poros . é que o corpo grita... o corpo grita... o corpo grita .