8 de julho de 2011

Um bom emprego

Ocupado demais em sentir as coisas...

Ponteiros quebrados


Ainda me sinto meio ontem...

Tamanho


Sentir o desconforto de não estar aconchegante dentro de si mesmo...

Vício Ordinário


...e essa solidão se resumia no silêncio da sua companhia.
Se resumia no querer-te porque não podia,
era o toque ausente das suas mãos vazias,
era a voz que calava nos meus milhares de monólogos com você ao meu lado sem estar.
Era o seu olhar desviado pra outras mesmo beijando meu pescoço...
era o virar pro lado depois do "amor",
era o fechar dos olhos sem um "boa noite",
era a T.V. ligada prendendo sua atenção na hora do jantar...
O acordar na madrugada com a metade da cama fria,
era o sábado a noite sozinha dentro de casa...
vários filmes,
chocolate, pipoca e lágrimas nunca combinaram tanto ultimamente.
Vários quilos de solidão...
Coloquei tudo na mala e fui embora pra viver sem você menos sozinha...
s.o.l.i.d.ã.o: o telefone não chama, e eu com sua foto rolando na cama...
Ao sair de casa deixei um recado em baixo da porta:
"A porta tá aberta amor, a chave escondida no tapete,
não precisa fazer nada pra fazer surpresa,
fica no sofá sentado pra eu te olhar,
não me toca se não quiser."

Meio termo, cadê você?


- Ela diz que ele é dramático porque sente tudo de uma maneira muito extrema.
- Ele ficou sem entender qual o problema em não gostar de sentir qualquer coisa que seja pela metade.

Seria saudade?

Primeiro um beijo molhado na bochecha,
Depois roçou seu nariz no dela,
Amaciou com os dedos os olhos dela que sorriam,
E lambeu sua boca várias vezes...
até sentir o gosto da fotografia.

Guardou na primeira gaveta,
Voltou pra cama em silêncio...

Roçou seu peito nas costas dela,
Passou a mão na barriga e seios dela,
E depois de engolir seu cheiro,
Abraçou tão forte que rasgou o travesseiro...

. Dona Urgelina Alves Barros .


Ela é assim: essa coisa de evitar falar e estar sempre cantarolando, de estar sempre observando o mundo a girar pela janela, captar as cores do dia, sentir as coisas o dia inteiro: em sua quietudo do corpo. Não sei, ela tem o dom de dar sabor especial às comidas que cozinha, de se guardar no silêncio do que acredita, de ouvir a vida, de fazer qualquer pedaço de terra um jardim fértil de alegria. Cores de flor com cheiro de janela, de flor em flor, uma força doce e singela ao mesmo tempo amarga e madura.  Ela dança com as mãos na cintura, brinca de criança fazendo careta, ela caminha pelas ruas encontrando em cada esquina os sentidos de seus mistérios  e ela é rodeada deles. Às vezes penso nela como o cheiro suave e forte de um cravo, de uma beleza singela de doer no olha da pupila. Ela é linda, ela canta fino como passarinho e ela voa plena em si mesmo em suas infinitas histórias...

. o tédio dela... .


Não espere que essa história tenha fim. Ela termina antes mesmo de começar. Eu só quero falar a alguém a resposta que nunca pude dar a ela porque não deu tempo. E pesaria muito pra mim, carregar isso sozinho, assim. Descabido sem isso tudo caber-me sem me torturar. Vou falar um pouco dela e depois te mostro a carta que ela me enviou antes de... antes de morrer. Diz ter sido assassinada pelo tédio, mas eu duvido muito que ela não tenha se jogado nos braços dele e voluntariamente seduzindo-o, pediu que fizesse e devagar...
Que era mulher e louca todos já sabiam, ás vezes, insensata, ás vezes sincera demais. Que era transparente todos já diziam, mas, que fazia tipo de guardar mistérios... isso não tinha como esconder.
Ela queria escrever com todas as palavras. Principalmente com as inúteis, mais precisamente, com aquelas que acabara de inventar. Não tinha muita tolerância como antigamente pra futilidades, humanidades. Que fosse como fosse, bastava que fosse com a força das vísceras. Bastava que fosse com verdade.
Que o dia-a-dia acomodava as entranhas, já sabia. Que se acomodar no passar dos dias deixava a vida apática, ela tinha medo, mas custou a admitir e a acreditar: dormir de mais acostuma o corpo, e o corpo acostumado com cama faz da vida um retrato embaçado com textura de sonho que não se lembra pra contar.
Que queria tudo de vez, isso também era claro, e era seu modo de querer estar no mundo, de achar que fazia sentido... sabe-se lá. Dizia pra si que é tão melhor quando a falta de sentido não nos faz estagnar... um dia me disse que se a gente não mata o tédio o tédio nos mataria sem pena nenhuma...
Um dia me escreveu uma carta pedindo que eu não respondesse de forma alguma: sabia porque sabia que justamente quando falava esse tipo de coisa era quando eu me coçava pra lhe dizer o que pensava sobre o que ela escrevia quando se senta assim. Enfim, não a respondi e acho que ela fez de propósito, mas em fingir:
“Meu corpo é uma mala sem alça pesada que carrego cansando a alma. É uma bengala que encosto num canto qualquer e deixo pra traz pra que eu siga mancando e caindo no caminho na espera de sempre me machucar. Preciso dar ao mundo uma nova vida que “substitua" a minha... pois sinto o tempo esgotar aqui dentro... como se os ponteiros do tempo descrevessem o sentimento de eu ser mais útil como adubo para o mundo... isso eu sei que eu faria bem. Espero que em mim nasçam lindas margaridas... e que antes de murchar, alguém venha busca-las em mim
A primeira vez que me matei, foi um alívio estranho. Foi uma morte rápida, porém doce, tenuamente confortável, confortante. Se livrar de mim uma vez foi mais fácil pra que eu pudesse faze-lo mais vezes. A primeira vez foi mais fácil que a segunda. Dessa vez doeu mais. Foi como se alguém tivesse me assistindo... E isso me atrapalhou um pouco por que não pude ser tão livre pra me matar do jeito que eu realmente precisaria. Dessa vez demorou muito pra que eu entendesse que eu realmente estava me matando.
Das duas vezes tive em mim o carinho da morte em minha cabeça e flutuei, fui tão longe que voltei mais viva em mim. Cheia de gás pra se viver na vida um pouco mais de mim. Dessa vez voltei calma, descalça, nua. Sem pressa de me matar outra vez. Dessa vez, me matei desesperadamente. Porque eu estava doendo de mais em mim. Eu doía de mais vivendo. Foi um alívio me atirar do alto, me esfaquear aos poucos vendo sangrar lágrimas do meu corpo.
Eu me sinto como se fosse a ansiedade viva de quem espera a morte contando cada segundo. A angustia de quem sofre acordando sem querer todos os dias, pra passar o dia cheirando flores nos jardins... Jardins alheios porque nem pra cultivo de flores ando prestando muito. Eu sou o silêncio de quem grita alto por socorro num mar deserto. Eu sou o deserto de quem procura por água. Eu sou o fincar da agulha no dedo de quem costura e erra. Eu sou o caos, o vago, o raso, o vazio e a surpresa de uma mágica frustrada. Porque já não tenho mais segredos, já não sou nada mais que a espera das rugas no meu corpo. Gostaria de envelhecer 10 anos por dia pra que eu não precisasse me matar antes da morte tantas vezes... Sobre a terceira vez que me matei não vou falar, pra essa não terei tempo, vou descansar as palavras em mim e dessa vez é fato... não vou falhar.”
Eu não sei o que dizer. Eu realmente não sei... mas ando tomando mais cuidado com o tédio...

12 de maio de 2011

. sem título .

.

na verdade o que faltou,
talvez tenha sido um grito,
no topo da montanha,
pro vento levar ao mundo
e lhe devolver em eco
aquilo que ele desejava

na verdade o que faltou
foi ele mesmo,
como sempre

faltou amor ao sonho
faltou verdade no desejo,
ou não foi nada disso,

talvez tenha faltado o silêncio
de estar próximo ao céu
ao seu
abismo
de si

talvez não tenha faltado nada
e isso ser a morada do problema
talvez tenha tido de tudo
e não se esvaziar,
foi o que ensurdeceu o corpo
cegou os olhos

e o corpo todo
se tornou prisão da alma
e a alma
quis vingar do corpo mudo

talvez a alma não tenha ficado quieta
e inquieta foi atrás de tudo
acreditando na ilusão de preencher-se
de um vazio qualquer

talvez tenha sido a morte
ali,
naquele lugar,
sua única razão de viver

.

20 de abril de 2011

. meta morfose .

.

ele olhava o rosto de quem passava e queria
ele olhava as curvas de quem parava e queria
ele olhava os traços do que andava e queria
ele andava parava e passava querendo tudo
mas pesava-lhe não ser ele


não se percebia

ele olhava o mundo para aprendê-lo
imitava
traçava seu traço em antropofagias
e se mostrava

não queria ser único
nem novo
nem nada

queria porque queria
e isso bastava
não porque se preenchia
comia o mundo e depois vomitava
levava ao mundo o que a vida parecia lhe dar

abstrata concreta
não se sabe
o que lhe cabe dizer
é que viver
lhe doía

olhava com a pele
ouvia cheirando
calava com a língua
o que a boca dizia

assim se fazendo:
a vida fazia

que a inveja fosse a ilusão de egoísmos
e que isso
assim como tudo
fosse fabricar-se
queria se concretizar em algo
pra acreditar que existia
e mesmo invejando tudo
não se importava

ao menos assim estaria dentro de tudo
mesmo que o tudo que se incluía
era o que (n)ele repelia

traçava o mundo em traços
palavras escorregadias
e deixava sempre a mostra
a borda das fotografias
desenhos sem realismos
dançava no escuro do dia
criava (-se)

e se trancava o dia inteiro
na sua caixa aberta e vazia


:


vazio de si
esgotado de tudo
resolveu olhar o mundo
de olhos bem fechados

corpo lacrado
solidão voluntária
fez do corpo sua prisão
pra ter do que libertar-se
pra ter o que fazer
enquanto a vida
estava fatalmente
deixando de doer

lembrava do corpo
quando o corpo doía

estava se esquecendo
em qualquer lugar que ia
se deixava
se alargando
dissolvendo
em tudo o que fazia

resolveu deixar de ouvir
respirava cada vez menos
achando que gastava o ar do mundo
comia sem fome
andava escondido
cresceu barba cabelos
cresceu ruga
e o corpo diminuía

tornava-se ponto
e assim assinava
dizia que em um único ponto
tudo cabia

inclusive nada

nada
era o que ele queria

nada seria
nada teria

poderia assim ser escorregadio

em nada:
tudo cabia

cabia tanto tudo
que não se coube mais na pele fria
tinha virado o desenho que ninguém faria

nunca se sentiu tão nulo
nunca se sentiu tão grande
nunca foi tão cheio de vida
escorrendo por sua caixa vazia de mundo
deslocado de tudo o que já conhecia
pode perceber que existia


dizia ele que assim
poderia começar tudo de novo

não que fosse novo
não que fosse exato
mas se tratava como outro
e isso lhe bastava

fato
e ponto

ninguém o entendia
e ele adorava
sendo assim
podia ser ele
e do jeito que ele gostava
e do jeito que lhe cabia

ele olhava o rosto de quem andava e sorria
olhava as curvas de quem parava e sentia
olhava os traços do que passava e saía
ele andava parava e passava se querendo todo
e o peso de ser quem ele era agora lhe fazia gozar por inteiro

se percebeu percebendo-se

e o mundo o olhava para apreendê-lo
o mundo não o imitava
mas o traçava sem traço o que não mais morria
e como quem não se preocupa com isso
ele se mostrava

vivo

como o mundo nunca tinha sido


.