15 de setembro de 2008

. mais uma de vazios .

Não sei se estou vazio das coisas, ou se são as coisas que estão vazias de mim. Não sei mais se são as coisas que me esvaziam de mim ou se sou eu que me esvazio nas coisas. Não sei se esvazio as coisas. Não sei se estou vazio ou cheio de mim. Não sei se estou vazio ou cheio das coisas. Não sei se sou esse vazio, ou se sou as coisas. Não sei se sou coisas vazias, ou coisas cheias delas. Não sei porque desse vácuo, desse escuro, desse silêncio que as vezes insiste em residir aqui dentro, ou aqui fora de mim e das coisas. Hoje sinto uma distância tremenda entre o mundo e eu. Entre eu e esse mundo meu. Ando sendo hoje o que não sei de mim. Pisar em tédios faz bem?

.

Nunca ser maior que o abismo
porque todo sentir, dói.
Onde você está?
_eu tô aqui, comigo.

. esquizofrenia científica ou caixa craniana: manicômio dos pensamentos .

A: _ se as palavras não tivessem acento seus cabelos subiriam, isso porque as paredes têm quatro quinas... qual seu signo?
T: _ peixes, por quê?
A: _ eu sabia... nos odiamos!!!
T: _ e o seu?
A: _ não posso dizer.
T: _ qual seu nome?
A: _ não posso dizer!
T: _ por que não?
A: _ porque pra saber se você vai entender primeiro tenho que estudar seu crânio, afinal temos três cérebros... não é?
T: _ ta.. que horas então?
A: _ é exatamente isso que estou querendo lhe dizer!
T: _ então... são que horas?
A: _ não posso mais dizer, porque você já formou um “F” com suas pernas, e é preciso cuidado com as deformidades hormonais, porque se não você viveria pra lamber as mulheres, ou faria gestos derretidos como os homens homossexuais....
T: _ já falei que não gosto quando você fica em silêncio atrás de mim!
A: _ mas eu não estou atrás de você... estou dentro de você.


“não ser as coisas não nos permite saber sobre elas, porque parece que todo acreditar é psicótico. A própria vida é uma suposição. Supor é o que o homem faz quando denomina o mundo... e por causa disso ele acredita que pode saber sobre tudo o que denomina... provar as coisas seria impossível dessa maneira... porque as coisas são somente o que elas se permitem saber. A gente recebe as coisas de fora... da maneira que nos parece certa, mas o certo é mais uma suposição humana ... a ciência é psicótica... não só os homens...

. sem lugar .

.
é como caber em qualquer lugar




...... menos dentro de si
.

. o fim de tudo .

.

o fim do mundo é onde não cabe onde
e o fim de tudo
é quando
é quanto
.

.

.

.

.

.
.....................................................é longe
... é aqui
dentro
de
mim
.

. nada demais .

. pisando no extremo meio de tudo . onde tudo é nada mais que a possibilidade de ser exatamente o que nunca precisaria ser . onde as coisas em sua sã consciência de coisa entra nos olhos . nos ouvidos. na pele . na boca . e vai... me sendo coisa . me tornando coisa . me desfazendo coisas . e assim eu vou/ .sem caminho traçado . pisando em palavras que não rimam comigo . pisando em mim . pisando na poesia de desconstruir cada conceito da palavra . da crença . da vontade de qualquer coisa . pisando na estranhice de se assumir como qualquer um. levando o peso nas costas . levando os calos num caminho onde qualquer pensamento desconheça . qualquer sonho permaneça . fazendo tudo ir . facilmente . no lugar onde somente quem desconheço acaricia minhas certezas de não ser... qualquer coisa que seja.

. efeito de fábrica .

.
pensar
pensar..
pensar.....

até o cérebro quebrar
.

. mais uma sem sentido de nada .

. onde as luzes piscam mais que os olhos . onde as sombras brincam de se tocar . onde tudo se converge pra onde se pode apontar . onde o silêncio mora nos olhos famintos . daquilo que se procura dançar . em cima dos barulhos . onde a música são tons dançantes entrando no buraco fundo da pupila . como se fosse possível ser todas as palavras . rimar poeticamente as peças quebradas da vida . e com uma vírgula se pegar no delírio , de pular pontos reticentes como alguns ponteiros fazem . quando com a alma par ti da .

. expurgos .

.
na poesia
da boca oca
na boca solta
de quem arrota
um grito
de boca em boca
enquanto
alguns
peidam
sentidos
.

. embalagens discartáveis .

Hoje eu quis te dar palavras de presente. Como se você pudesse guardar pra si um sentimento concreto... sons não se guardam se não gravados... então como não me dou muito bem com diálogos resolvi te dar meus sentimentos sentidos nesse momento pra que você guardasse como seus. Não quero que você sinta o que eu sinto, apenas guarde. Como se cada palavra fosse componente de um objeto quebrado e remontado. Porque parece q é assim q estou: em pedaços. Não me pergunte por que, mas as palavras que me compõe são as que defino como as partes constituintes desse presente. Quero que você me guarde... leia as palavras como se estivesse desembrulhando um presente. Me faça entrar pra dentro de você através dos seus olhos. Leia cada letra como sendo células que fazem as palavras serem mais que ventos... Não me compreendo, não entendo os arrodeios que dou para dar sentido as coisas do mundo que vão além de mim. Não entendo o que vem antes de mim, não entendo a ordem das coisas que defino como minhas e porque minhas me fazem assim. Não entendo quase nada que tem como definição uma simples e específica palavra. Como se a palavra naturalizasse o ser das coisas definidas por elas. Sei que tenho problemas em compreender o que hoje vai além dos seus fonemas e sílabas constituintes. Não sei do que se trata o constituir algo. Porque não sou o que me faço. Não voluntariamente. Não com a consciência plena de estar sendo isso que me da uma “forma” de ser. E de parecer ser tão definitiva quanto a palavra que me define. Por isso que acredito que bom mesmo de sentir, é aquilo que não tem nome. É aquilo que desconheço como algo certo de ser tão conhecido a ponto de ser “falado”. Pelo visto ando tendo muitos problemas em me relacionar com as palavras. E por causa disso ando tendo problemas também em aceitar o silêncio como a ausência delas. Fico por aqui... não por faltar palavras, mas por faltar um silêncio que defina mais exatamente o que sinto quando acredito que a loucura é tão livre e confortável como o morrer. Adeus.

..

. enquanto o vento quebra . o silêncio do tempo . a saudade cospe um nó . nos desajustes dos ponteiros . e o mundo se depara . com as cores do invisível . e torna o sorriso . a excreção pura de algo . que foi partido . deixado . interrompido . e define a verdade dos momentos . onde as reticências são apenas dois pontos ..

. quando a vida se olha no espelho .

e eu aqui nesse "abismo de nada"
esperando que o vento me traga respostas.
e eu aqui derramando minha vida pelos olhos,
me expulsando friamente de mim.
e eu aqui,
me sentindo sair pelas vísceras,
queimando os poros de um rosto maquiado de apatia.
e eu aqui, sendo engolido pelo desaforo que é viver.
sendo esmagado pelo encanto do silêncio que não suporto guardar dentro da pele de mim.
e eu aqui tendo a morte acariciando minha cabeça todos os dias.
e eu aqui
sendo enforcada pela vida.
sentindo o aperto das cordas no pescoço.
e é a vida que me empurra.
é ela que não me deixa livre pra ser.
é ela que não me liberta pra viver.
e eu espero o vento...pra que ele me derrube.
pra ele me faça cair em mim mesmo.
pra que assim seja mais suportável sentir a vida entrando pela pupila
sem machucar o que ainda resta de cores nos olhos.
a vida me mata.
e eu mato a vida.

. assim... .

. ao sorrir, seja o sorriso e nada mais, pra que não seja tão contraditório ser quanto as outras coisas que ainda restam, ou até mesmo as que não restam em nada mais porque não foram ...não foram, e foram... o que vai além do que é preciso ser, porque sorriso nem sempre consegue ser sorriso, porque dá nisso ser, ser assim, tanta coisa ao mesmo tempo e acaba sem tempo de ser verdade, de ser a simplicidade de ser assim, assim... .

. lembra do amor, dos quintais e dos balanços .


T: pois é tbem acho
S:... eu tb concordo plenamente,
T: q bom
S: porém vale ressaltar... que nas despedidas eventuais...
T: ham...
S: onde os caminhos se desfazem temporariamente.... fica sempre o cheiro bom do cabelo... e depois tb.
T: do cabelo, da pele dos pelos dos poros e dos sons, porque os sons que lembro de ti..são gostosos de sentir o cheiro
S: quando as coisas apertam aqui... lembro sempre de vc
T: quando as coisas folgam aqui tenho sempre você
S: é fato, lembranças são como orações de fé que eu tenho e rezo todo dia... essa é minha religião, é minha fé minha força.
T: é fardo, lembranças são como fé de orações que eu não tenho, mas que quero todo dia. essa é minha religião, buscar por uma fé que nem sei se já tenho mais.
S: de certo que esse emaranhado de sentimentos... seja a fé mais óbvia e mais simples... sentir... continuar sentido... para sentir mais... e sentir sempre.
T: nunca ser maior que o abismo.. porque todo sentir dói.. me encontro no inicio de uma escada, é fácil fácil cair. ou se deixar ir. rolar por degraus.
S: talvez na minha poemática, seria invertido, talvez eu estaria subindo as escadas...
T: eu estava descendo.
S: são amores... formas do mesmo...
T: sempre estou na verdade... é difícil eu subir escadas, descer dói menos. ...adoro cores!
S: o que vale é amor... talvez eu suba e suba e suba até lá encima... no fundo eu sei que lá no alto tem outra escada, ai subo subo subo .... até a outra, quando eu tiver que descer a coisa vai ficar difícil... muitos degraus... muito alto... espero que não tenha de descer... talvez esse seja meu medo...
T: não sei... não entendo muito bem de medos.. porque sinto quase todos
S: quando você tiver sua casa... lá naquela praia escolhida... quero estar perto...
T: você vai estar, como sempre esteve. ...quando eu morrer, posso te levar?
S: te amo. isso é fé. vou indo.
T: eu não... vou ficar, te esperando, aqui, sentada no mesmo lugar.
S: e te amo mais...
T: sem mover os pés.
S: até. ...quando as escadas forem muito grandes, com seus degraus pontiagudos... lembra do amor... dos quintais...
T: e dos balanços.
S: no mais, carinhos...
T: venha dar.
S: vou sim, em breve eu vou... é isso...
T: é sim
S: a mandinga é forte...
T: são flores. ...é sim é mandinga.
S: que seu dia seja alto nível.
T: o seu ano também!
S: a sua vida também,
T: sua morte também.
S: a nossa!

. tome um bocejo .

agora me deu sono...
já vou desistir facilmente de novo,
talvez dormir me faça bem...
me faça adormecer isso que empurra letras de dentro de mim.

. mais um universo .

. ele existe sim . onde cabe sua vaga inexistência . assim como tudo . assim como a vida . porque pra ele . é uma invenção gratuitamente dolorosa de se crer . por isso ele não acredita em mais nada . acha que a vida e a morte é um movimento só . nada é começo nem fim . nem ele começa . nem ele termina . em si mesmo . e em si mesmo . ele vai levando a fome de ser . a fome de ter . de ter o mundo dentro do estômago . e cabe . e sobra espaço . mas ele não acredita mais na fome . então parou . de comer o mundo . de comer a vida . e passou a comer a si mesmo . pelo estômago . de dentro pra fora . de onde se encontra existindo . e a fome era tanta . que o estômago começou a se corroer . a se devorar . e quando acabou estômago . comeu os intestinos . depois os rins . depois os pulmões . as peles . e tudo . tudo o que existe dentro dessa caixa vazia de si mesmo . e se devorou . por completo . e tudo o que ele existia coube dentro . e se condensou tanto em si mesmo . que a inexistência explodiu . no grande vácuo que é . viver . e estar morto . ao mesmo tempo : bum! .

. inspiração expiração : inspiração .

.

16 segundos

é o tempo
de minhas existências:

8 segundos de maré cheia
8 segundos de maré vazia

.

. marés .

o lado de lá
mais calmo
na sua ampla inexistência
mais concreto
na sua abstrata singularidade
mais sadio
como um corpo sem nada
nem mesmo o próprio corpo
próximo ao estar onde nunca se coube chegar
ausência de palavras

sonhos
são
o
que

de
mais
racional
em
mim

do lado de cá
existir em uma vaga inexistência
não dói muito alto
matar a vida
o conforto
é o que não cabe
dentro de si mesmo
ponto final

. cuidado .

. cuidado com o que acredita . e . engole . o silêncio . pela boca . e vomita . pelos olhos . e deixa escorrer . na pele . seca . do seco . que vem de dentro . pra fora . e grita . nos poros . e abafa . o medo . e vai . olhando pelos olhos . e ouvindo pelas mãos . e falando . com os pés . e . as vezes as coisas estão ao contrário . mesmo quando não existe o querer .

. de dentro pra fora de fora pra dentro .

. porque o dentro . é muito fundo . pra se querer entrar . mais fácil . assim . é ficar . no vazio . que é ser . da garganta pra fora . que é não estar . da pele pra dentro . nos vazos . no suco gástrico . ou qualquer lugar . onde se possa localizar . o dentro . de algo . qualquer coisa . que consiga ir no mais fundo de si mesmo . muito além da boca . muito além do cú . sem dor alguma . nem medo algum . e ser verdade . mergulhar . penetrar . sem sair . sem gozar . sem finalizar . e morar dentro . como quase ninguem faz .

. deixa pra lá .

. sinto as pessoas que não me pareciam bem . e me sinto como sendo alguém que gosta de gente triste . e isso é sempre . e isso é tanto . que penso que tudo o que me faz bem , me machuca um pouco . porque machuca mesmo . porque doer como algo que arde agudo me parece me colocar num lugar onde flutuo as pernas e me esqueço .

. entre quatro paredes .

. é como se as paredes me olhassem no fundo dos olhos atacando meus estômagos . elas vêm . começando por dentro de mim . por dentro dessa pele que tanto afirmo oca . por dentro dos poros sujos do mundo que guardo sem jeito aqui dentro de mim . por dentro de um intestino que não funciona no meu ritmo . nunca . abafar-se em paredes . entre quatro paredes não caber-se em si . o silêncio das paredes sufocam-me um grito seco . me estrangulam azulejos . vontade ranzinza de morte . onde a paz se apresenta estranha diante dos olhos . onde fincam os dentes a tentativa de comer tudo . e tudo .

. de vó pra neta .

- vó, o que é o tempo pra você?
- o tempo minha filha...?
eu sei lá... o tempo é o tempo.
- ...
- é aquilo que passa, as vezes manso, as vezes brabo...
- como o mar, né vó?
- é... como o mar...
- que nem maré...
- maré mansa, maré braba, maré cheia, maré vazia...
- é...
- eu sei lá... só sei que "eu" to passando, e a vida passa rápido que a gente nem vê, e quando eu me vejo, tô aqui sentada nessa janela vendo a vida passar também... que nem o tempo...
- que nem o tempo...

. auto-artesanato .

.

despedaçando-me
formo um novo artesanato
de mim mesma:

amputo-me de mim
e assim
me sinto na sobra de espaço
que não me deixo
ao me ver num encontro
de mim
comigo mesma:

dentro
de
mim
não
me
caibo:

por mais ou por menos
me sou dolorosamente
o que posso
de mais exacerbado
de mais ecleticamente apropriado:

uma arte sem rótulo
pintura sem tinta
pincéis sem cerdas
tinta sem óleo
estrutura sem argila:

palavra não inventada
sem sílaba
fonema inútil
infabricável:

grito mudo

aquilo que se enxerga
no escuro
de olhos fechados:

pele sem poros
carregando
como sempre
a fantasmática,
inocente sutileza,
de uma verdade vencida
e sempre repetitiva:

sempre:

a mesma coisa:

começada
com um ponto final
finalizada
antes mesmo de iniciar:

dogmatizada
como o sentimento na palavra:

onde o embaçado é nítido
onde o nítido se embaça
consigo mesmo:

letras adubadas por vento

não adianta falar

nunca será:

a mesma coisa:

nunca:

reticências

.

. mais uma de existir .

. O peso da vida não cabe na mochila . e tudo vaza em sua plena consciência de não ser resposta pra nada . e talvez, por isso . seja . e talvez por isso que entre . no fundo do buraco negro da pupila . no buraco fundo do estômago . do ouvido . dos poros . no fundo da pele, onde o mundo toca em mim . e eu toco o mundo . a poesia da vida se descobre assim . em cada silêncio abastecido de incertezas . que devoram a consistência inexata da vida . onde dói ser . onde não cabe o ser alguém . algo . qualquer coisa . porque dói acabar . como se a vida acabasse em cada palavra . em cada reflexo no espelho . o peso do vazio não cabe na boca . e o sentido das coisas silenciosas são levadas pelos vasos sanguíneos até a ultima ponta . até onde o mundo explode em si . onde as coisas no seu sentido mais desorganizado me compreendem . com a calma do mar quando me lambe . e sente o gosto amargo que carregam os poros solitários . dessa gastrite aguda . que se faz a fantasia da existência .

. p a l a v r a s .

. quando você começa a morder as palavras . e a enguli-las depois de degustadas . você percebe que todas elas tem o mesmo gosto . a mesma receita . o mesmo início e o mesmo fim . que todas elas tem o mesmo recheio . a mesma cobertura . e aprende a não entender mais as palavras . não em sua insignificante superficialidade . e aprende a ter dor de barriga por causa delas . a colocar o dedo na goela pra vomitar . e se livrar delas até seu ultimo ponto , até a última pontuação . e descobre que as vezes você fala . fala . fala . e que é por isso que ninguem te ouve . e te entende . e por isso mesmo você também já não escuta mais ninguém . e tudo se torna o mesmo movimento . o queixo se abre , a boca baba , a saliva sai , mas nada é dito , ou tudo é dito em palavras diferentes que querem dizer sempre a mesma coisa . sempre . palavras com gosto de nadezas . palavras com gosto de surprezas . palavra com gosto de estranhezas . palavra com gosto de medalhas . palavra com gosto de palavras . e o vômito são sempre letras soltas . u m a p o r u m a s e s o l t a d a b o c a . sempre .

. de filho pra pai .

.

_...mas, pai, qual a diferença dos bichos pro homem?
_a loucura meu filho...
_e por que todas as pessoas são loucas?
_porque, se não, elas não seriam pessoas...
_gente é como as estrelas no céu pai?
_não sei meu filho... nunca consegui pegar nelas...
_nas pessoas ou nas estrelas, pai?
_nas estrelas filho?
_e as estrelas são penduradas no céu pai?
_é, filho.. até onde eu sei...
_elas são presas em fio de seda ?
_não sei... acho que o fio mesmo não dá pra ver...
_ah... se eu subir bem muito até a lua... será que eu consigo pular e me segurar nelas?
_não sei filho... não sei.
_pai... você me leva um dia na lua?
_queria... mas não sei se vou poder...
_por que, pai?
_custaria muito caro meu filho...
_caro quanto?
_...
_ah pai... eu vendo meu carrinho de madeira que você me deu...
_... vai filho... lava o pé, lava...sua mãe ta esperando nóis em casa pro almoço...
_a gente pode vender nosso almoço e tentar comprar passagem pra lua?
_ não filho... se você não comer, você não vai conseguir chegar nem na metade do caminho... _...mas eu nem com fome... queria mesmo era pegar nas estrelas...
_...um dia... quem sabe hoje a noite.
_ hoje depois do jantar?
_é... depois de dormir também.
_pai... quero ir dormir logo...
_bora, menino... bora, que a graça não é ter estrelas não...
_mas..
_mas... nada! se você tivesse as estrelas você colocaria no canto do quarto que nem você fez com o carrinho de madeira, e sua pipa, e a bola,... aproveita enquanto você não tem e continua olhando com os “olhos de ver” o brilho que elas têm... bora!
_pai...
_quié menino?
_acho que não quero nunca crescer. . .

.

. inocência .

.

vai inocência...

vai,

e não esquece

de não morrer,

e lembra

que a gente morre,

quando se esquece

que inútil,

é buscar

saber

.

. passado e futuro .

. o presente: não cabe no tempo .

. profundidade .

. coisas que saem da garganta pra fora são dispensáveis .

. música .

.


silêncios
que escutam
o que o mundo quer dizer
com o cantar dos passarinhos:
...

.

...

. e se torna inevitável sentir . que enquanto algumas coisas se afastam . outras se aproximam . e na ausência do mundo . que essas coisas me trazem . outras tocam em mim . me presenteando a vida com o sabor da beleza do vazio . certas coisas que entram nos olhos . se agarram . aos poros . que a saudade carrega . e a solidão não tem rima . porque a solidão . não carrega nada nos vazos sanguíneos . o céu .vale mais que uma gota de sonho .

. nascer do pôr .

. céu parindo o sol . sol parindo o dia . ao nascer . o sol berra baixinho . e espanta os pássaros que correm . pro lado que amanhece sem tanta pressa . não o dia todo . mas todos os dias . sim . porque sim . porque sol . é isso . o grito dos pássaros dizendo bom dia . e o sol junto gritando . com os raios que tocam com o berro . que é nascer . por ter morrido . 12 horas de vida . 12 horas de morte . e ninguém vê .

. joão e maria .

.
- ei maria, olha o que eu achei!

- o que joão?

- tá aqui, procura entre os dedos...

- mas é tão pequeno, que nem dá pra ver...

- eu sei, é mentira. É só pra você pegar na minha mão.
.

.

.

o universo
cabe em
uma célula

e tem
certas coisas
que não
passam
pelo

e
s
ô
f
a
g
o

da
pia
.

14 de setembro de 2008

. que venham coisas boas... sempre .

. e na hora em que me sinto deslocada de mim mesma . minha pupila me desencaixa . é a hora em que me explode o riso em choro . o berro em riso . e se torna tão conturbado tentar me encontrar nesse descontexto de mim mesma . que o céu se faz roxo . e num mar amarelo entram mulheres banguelas que acenam para o céu . meninos com a cara enfiada na areia ao lado de amigos andorinhas . meninos com tiques nervosos . pessoas em roda de mãos dadas em reza . um homem que carrega seu ramo de flores vermelhas . berrando um desespero silencioso . mulheres gritando . meninos dançando com os punhos cortados . mulheres dançando funk . homens mijando ao meu lado . mijos meus . mijos seus . mijos nossos . homens mortos vomitando . amigos de infância me trazendo passados . conversas de blábláblá com quem o amor não se faz em palavras . risos que rasgavam a garganta e doíam a barriga em alguém que raramente me encontro . e na fome me entram no estômago o mal-humor de uma mulher trabalhadeira junto com o seu suor no suco . e no caminho de casa me encontro com o que fujo . e beijo a loucura . e abraço o louco . o espelho de todos . até de quem tem a loucura embaçada em si mesmo . saudades . lendas . lendas . e lendas . e no jogar o sabonete pra iemanjá o pedido se torna sempre o mesmo: que venham coisas boas... sempre .

. fluxo .

. sabe quando a flor pousa na borboleta? . e a borboleta deixa de ser borboleta . e a flor deixa de ser flor . e as duas passam a ser o movimento do pouso? . o movimento de ser uma coisa só? . quando as cores se misturam . quando a vida se resume no simples movimento de pousar no mundo . sendo o mundo . e só? . então... . é isso o que as borboletas me ensinam quando meu dedo pousa em suas cores . e minhas cores . que nunca foram minhas . se tornam o movimento das asas da borboleta . e minhas asas pousam em mim . que já não sou eu . mas a borboleta e eu . numa só cor . num só movimento . voar . voar . e voar .

. A mulherzinha .

Ela é toda bonitinha. Gostosa. Arrumadinha. Bem mulherzinha. Do jeito que eles gostam. Ela gosta quando é bajulada. Quando é adulada. Não suporta ser mal-tratada. Precisa ser olhada. Precisa ser olhada. Ai! Como ela precisa ser olhada! É preciso que acariciem seu ego, né mocinha? É preciso que todos a vejam como “A mulherzinha”. Ela grita em seus super decotes: _“Olha como meus peitinhos são do jeito que vocês querem, olha! Olha como meu traseiro é do jeitinho que eles mandam, olha! Olha minha barriguinha. Eu me preocupo muito com ela, sabia? Tanto, que me tornei meu próprio umbigo. Olha meu cabelo. Brilha como eu. Ah, me olha andando, olhando, falando, gritando... me olhem! Me olhem quando danço, quando canto, e quando passo rebolando em mim mesma”. Ela precisa estar no centro, ser o centro, se não, se descontrola. Ela “gosta” de todos, mas não se sente confortável quando “alguma” chega perto. Que perigo! Que perigo! Corre-se o risco de não estar no centro, de não ser o centro. Então ela apela, se desespera. Fica toda venenozinha. Ai! Como puxo o saco das outras menininhas: _”Mulher, como você é linda, mulher que saudade, como você ta sumida! Mulher... mulher...”, tão verdadeira essa pilantrinha. Ela é toda bonitinha, gostosa, arrumadinha, bem mulherzinha. Mas “mulherzinha” de mais. Tão “zinha” que parece uma criança. Uma menininha linda que papai criou como boneca pros garotos brincarem. Ai! Como ela adora quando eles “brincam” com ela. Ela foi feita pra isso. Pra ser mais um objeto do papai, dos garotos... Olha como ela é feita pra eles! Olhem! Olhem! OLHEM! Ela precisa ser olhada. É preciso que ela saiba o quanto se falam dela. Falem! Falem! Aplaudam. Mais uma bonequinha entre tantas bonequinhas do papai... Ela tem voz de mulherzinha, é boa de cama. Geme trepando, geme rindo, geme falando, geme fumando, bebendo, cheirando. Que perfume.! Cheirem bem a pele dela. Olha como ela é! Imagina se ela fede. Que linda. Que gracinha. A melhor das mulherzinhas. Êeee... Ai, olha que lindo o sorriso dela. Esperem! Esperem! Ela precisa beber mais um pouquinho... pra se sentir mais a vontade, pra ter mais facilidade. Olha como ela olha pro mundo pra ver se o mundo olha pra ela. Olha! Vai, mulherzinha. Grita mais um pouquinho. Compete, compete, que você ganha. Ganha tudo. Ganha todos. Algumas você também ganha. Não, não! Não vai sem maquiagem. Imagina ser o que se é! Deve ser doloroso de mais ser um pouco menos do que se imagina! Disfarça. Põe um quilo de pó na espinha. Tem que ter a pele lisa pra poder ser bonitinha. Vai! Coloca o enchimento e a sainha. Vai! Levanta o peitinho pra eles. Eles gostam é das gostosinhas. Vai! Vai! Que gracinha. A melhor. A melhor. “A” mulher. Ai! Ai! Não fala agora não! É tanta merda que sai dessa boquinha. Boquinha carnuda, rosada, molhada, rosinha. Linda! Do jeito que eles gostam, né? Mas eles pedem pra ela abrir a boca quando não é pra falar não é, bonequinha? Ah mas tudo bem, a bonequinha do papai gosta. Bem na boquinha, vai vai... bem na boquinha. Fala mulherzinha, agora fala! Ela adora abrir a boca pra falar do que não é dela. Do que não é ela. Fala! Fala das outras, mulherzinha. Fala! Mas ela é tão baixinha, que se resume ao seu tamanho. Mas o que é que tem ela falar merdinha? Coisas tão pequenas como ela? Fica caladinha, fica, mulherzinha! E ao chegar em casa não esquece de tirar a maquiagem. Estraga a pele, sabia? Não esquece de avisar às suas outras amiguinhas... Aliás, não! Não avise não. Imagina elas terem a pele melhor que a sua? Deixa! Só tira a sua. Limpa bem os poros. Mas não pra você mesma. Afinal você já está cansada de se olhar no espelho! Tem que mostrar pros outros. Têm que mostrar! Que graça vai ter, né? Você não vive pros outros? Nos outros? Às vezes até em cima deles? Passa por cima pra ficar por cima? Vai lá mulherzinha, vai com sua vidinha. Tão vazia, né gracinha? Amanhã é outro dia, dorme bem, bem bonitinha... vai que tem alguém olhando, né? Olhem! Na passarela, lá vai a mulherzinha. Todo dia. To-do-dia... tão ela mesma! Tão repetitiva, tão cansativa. Mas é uma graça essa tal de mulherzinha. Olha! Olha como ela é feliz com suas “amiguinhas”. Quem é a melhor delas? Você, né, mulherzinha? Hoje ela não quer sair de casa.. Não está tão bonitinha! É o espelho mulherzinha, é o espelho... com defeito! É claro que você é sempre uma gracinha. Já ganhou medalha hoje? Isso! Isso! É assim que se faz... e lá vai ela..Bem programadinha. Toda obediente. Bem certinha. Simetricamente perfeitinha. Ai que linda! Ai que linda! A melhor das menininhas! Ai que show de mulherzinha. tão sozinha, tão sozinha... tão sozinha A mulherzinha...

. mar-morto .

. é como cortar o bucho e derramar as tripas em sonhos . porque morrer dói pra quem não morre . mas pra quem fica . vivo . vagando . com o vazio de não poder entender o tempo . me diz como é ser deramado no mar? . me diz porque a vida ou a morte leva o que não pode ficar? . pra deixar aqui dentro o vazio de uma saudade que não se pode matar? . é como comer os restos . de sonhos famintos . exatamente por aquilo que não se pode fazer voltar . amanhecer e entardecer em você . que a onda do mar que me bebe . me leve . de mim . até onde você possa estar .

. quando .

. eis quando na fome . come-se o tempo . come-se o dia . as saudades em cheiros . as palavras vazias . eis quando nas ruas . a solidão se desconfia . e em ruas de silêncios . o vício da loucura acaricia . eis quando o grito . não se cabe na voz . e na barriga vazia . procura-te a ti mesmo . enquanto o choro preso anestesia . o que somos todos nós . eis quando o abraço . em mais de tantos braços . já não cabe na pupila . e o mundo entra pelos olhos . e a pele se destila . eis que a solidão do louco . somos todos juntos . berrando como mudos . berros que não cabem no ouvido . eis que a pele vai além dos poros . é quando a rima é impalavreável .

. de quando em quando .

. quando o invisível se torna nítido . quando o nítido embaça os olhos . quando a estrada é desenhada em cores . quando cores tem cheiro de flores . quando flores entardecem o dia . quando o dia anoitece o tempo . quando o tempo afugenta os números . quando os números se tornam ondas . quando ondas se tornam arco-íris . quando arco-íris se torna águas . quando água se torna fogo . quando fogo se tona terra . quando terra se torna ar . quando ar se tornam asas . e nos mundos que se encontram o que é permitido é voar . voar . voar como pombinha .

. ensaio sobre a cegueira .

. e no olho que não enxergo . te faço lar . porque aquilo que não vejo . é exatamente o que quero enxergar . no olho onde se embaça o mundo . te faço por mim olhar . com o zelo de tocar o mundo . com olho de desembaçar . se no meu olho esquerdo você morasse . com seus dois olhos ia enxergar . tatear o mundo com jeito de cores . lente de pupila o mundo abraçar .

. sem êra nem bêra .

. é como se no barulho que se faz o silêncio da natureza . os dedos procurassem a textura da lã . a respiração ficasse preguiçosa . as nuvens fizessem círculos gigantes no céu . a lua andasse com suas pernas invisíveis . os pássaros voassem com asas barulhentas . a vida passasse rápido com tempo de ponteiros . e beijando a noite de olhos fechados . o sol viesse manciiinho . preguiçoso . colorindo nuvens . azulando o teto que segura as estrelas com fios de seda . então elas se apagariam . pros olhos . que fechados . descançariam as palavras abraçadas em travesseiros . morando em abraços seguros . bla-bla-blasiando . tenha um bom dia inteiro .

. brincadeira de adulto .

. vamo brincar de virar bicho do mato? morar em cima de uma árvore . na pedra de uma montanha . numa barraquinha de palha . e brincar com os bichos o dia inteiro . começar a entender o que querem dizer os pássaros . os lagartos . as rãs . as nuvens . fazer carinho na grama . plantar o que se come . cenoura . tomate . alface . maçãs . melancias . uvas e abacaxis . e tantas coisas mais pra se aprender a fazer . vamo brincar de voltar a ser a natureza? deixar de ser menos concreto . menos cinza . pra voltar a ser verde . pra voltar a saber como pular de galho em galho? vamo parar de se proteger tanto da natureza e acabar acreditando que a gente não faz mais parte dela? vamo brincar de começar o mundo de novo? fazer das coisas que não são o homem, só porque ele não inventa, menos descartáveis? ainda quero que meus filhos brinquem de gangôrra numa árvore gigante . será que ainda dá tempo de começar tudo de novo? vamo brincar disso . vamo?.

. estradas .

.as vezes . acho que as coisas . quando querem seguir seu rumo . não têm pretensão alguma de ser entendidas . o que eu sinto aqui . dentro dessa minha pele . que guarda teu cheiro . em cada milímetro de poro . é que minha estrada se cruza com a sua . não sei em que lugar . nem em que tempo . nem em que condição . nem em que circunstância . não sei de nada . mas sei que numa dessas curvas . eu caio exatamente no seu braço . e você . me carrega junto contigo . pra lugares que não se fazem de estrada . parece que sua estrada . não é do mesmo tamanho que a minha . que ela se desgruda em curvas . que me fazem te perder de vista . mas logo depois do fim da curva . te vejo caminhar com seus pés na estrada ao lado . e percebo que minha estrada . não tem que ser a sua . nem a sua a minha . que não devemos ter a mesma estrada . nem andar na mesma linha . que a gente tem que se encontrar . onde a curva deixar a gente se levar . mas, quem desenha a estrada somos nós . então . a gente pode escolher . em que curva . um . vai acariciar o outro com seus sonhos . então a gente vai juntando as curvas um do outro . e tocando um no outro . no que vai além das curvas . no que vai além de estradas . desenho uma estrada nova pra mim todos os dias . e cada passo que me levo . vai ao seu encontro . ao encontro de uma curva da sua estrada . que também se desaba às vezes na minha . construir estradas juntos é estranho . é como tentar se conhecer . cavar cavar cavar cavar . pra nunca se chegar ao fundo . porque o que “somos” . não se encontra no fundo . nem no raso . talvez nem se encontre . porque a cada dia que se tenta cavar o buraco . a pá já não é a mesma . e quem segura a pá então... .

. no centro das bolinhas coloridas de ar .

. tem coisas que são indizíveis mesmo né? tem coisas que são indivizíveis . tem coisas que são infotografáveis . tem coisas que são lindas . que nem fazer planos na praia . de ser pescador . de ser qualquer coisa que seja tão concreto como um sonho . tem coisas que são coloridas: dá pra ver o arco-íris em bolhas de ar . algumas pessoas tem medo de espuma . algumas pessoas falam de caleidoscópio . algumas pessoas são mágicas . tem coisas que parecem que não param de se encontrar . tem coisas que são uma coisa só . tem coisas que ninguém sabe explicar . como essa felicidade explodindo aqui dentro . como falar de fogo . terra . água . e ar . e dançar na beira da praia cantando pra lua ouvir . e ser assim . dono de uma alegria que ninguém pode tirar . ai oxum . ai jah . as fadas estão voando por aí . dentro dos olhos . dentro das cores . dentro do mundo . no centro de tudo . no centro de uma simples bolhinha colorida de ar .

. rima besta .

. eu não sei rimar nenhuma palavra . não sou de explicar sentimento algum . sem filosofar sobre o tudo e o nada . eu sou só mais um . eu só sou mais um . não sei entender qualquer diferença . eu só sei da crença . que sei carregar . eu só sei dançar bem desafinada . não me encontro em nada. não encontro nada . não sei definir tristeza nenhuma . mas eu sinto todas e de qualquer um . e vagando, vou divagando o mundo . e como todo mundo sem saber... eu sou .

. mais um bláblablá .

. tantas palavras inventadas algumas tão repetidas e outras tão inusadas outras tão vomitadas outras tão guardadas umas tão úteis todas tão inúteis umas tão cantadas outras tão tocadas umas que não significam nada e outras que não significam nada e elas continuam sendo inventadas e esquecidas e usadas e tão inutilizáveis dadas e outras roubadas ouvidas e acarinhadas chega ser algo inoficupemestizável palavrear sobre palavras porque palavras palavras palavras palavras palavras palavras palavras palavras e são só palavras que não dizem nada .

. no aeroporto... .

. mil tempos de espera . e o tempo não vem . me deito em ponteiros . sonhando canteiros que ninguém têm . flores de primavera . cores de primavera . quem dera estar . aonde cheguei . quem dera voltar . pra onde eu não sei .

. música pra boi dormir .

A vida inteira sempre fui demora
E as coisas belas já não deixo ir
Não me convenças de não ir embora
Se no meu peito o que guardo é a vontade de partir
Não me procures logo agora
Que não me ardes mais amor por ti
não tem mais uma saudade que devora
nem um passado nosso vivo aqui
não diga nada sobre estar tão triste
pois em meu riso a vida agora existe
dentro do peito secaram as lágrimas
e meus olhos já não seguem mais a ti
sem me cruzar com as curvas de sua história
deixo passar agora a sua estrada...
ainda vive sim em minha memória
mas minha pele é outro cheiro que ela guarda
em meu silêncio já não grita mais o seu
em tua ausência já não me cala a ilusão
guardo comigo uma palavra que doeu
e o que tenho não é mais sua solidão

. da infância .

. eu não sei . eu me perdi na estrada . eu me perdi nas curvas . e hoje eu não sei . eu não sei . voltar de onde vim . perdi tudo tudo o que eu tinha . não sei dizer se sou . aquilo que eu deixei . eu não sei . eu não sei . não sei dizer se vinha . aquela brisa fresca . que eu tinha a tardinha . nos balanços da maior árvore do quintal . maior árvore do quintal . maior árvore que eu tinha . não sei dizer se é minha . brinquei . brinquei . e hoje aqui sozinha . não sei dizer se é mais . melhor de bom . parar . ficar . parado aqui na minha . eu não sei . eu nao sei . eu não sei... .

. saída de emergência .

. torcer as palavras . quebrá-las ao meio . cortá-las em tripas . que é pra dar recheio. que gosto teriam as palavras em seus poros visíveis e táteis ? palavras têm cheiro de vidro ? que cor teria a fumaça das palavras com o incendeio de seus cacos ? palavras com gozo de sexo . palavras são sonhos sem nexo . palavras concretas . palavras discretas . palavras com vida . letras enquadradas p r e s a s s e m s a í d a . palavras criadas . palavras sentidas . palavras que somem . palavras não ditas . palavras quebradas . caladas aflitas . palavras pensadas . p a l a v r a s m a l d i t a s . palavras que dançam . que soam que gritam . palavras distantes . tão frágeis que habitam . palavras de rochas . de pedras . de britas . palavras que morrem . de tão r e p e t i d a s . ... . letras de p a v i l c u r t o . palavras vindas num surto . palavras humanas . que inventam a loucura . palavras insanas : remédio ? sem cura !

. diálogo entre um pássaro e um homem .

B.T.V: _ “Bem-te-vi! Bem-te-vi!”

S.J.: _ Bom dia passarinho!

B:_ Olá Seu João! - olha o sol - já é dia – vai-se a noite – outro dia? – bem-te-vi! bem-te-vi!

SJ:_ É sim Bem te vi! Olha as cores, olha as nuvens. Em silêncio escuta o mundo Bem te vi?

B: _ Olha o vento – é o sol – é o grito – em movimento – vem chegando – vem de longe – vem na pele – bem-te-vi-! bem-te-vi!

S.J:_ Olha o galo! Olha as luzes se apagando! É o sol? olha o sol! olha o sol Bem te vi!

B: _ Olha a fome – come o sono – abre as asas – voa longe – fecha os olhos – vê o mundo – como é grande – como é longe – bem-te-vi! Bem-te-vi!

S.J: _ Já vou indo! Tenho pressa! É o mundo, esse mundo, que é seu, que é meu, que é nosso, Bem te vi!

B: _ Seus sentidos – são o mundo? – estás cego? – olha o mundo – ele é grande! – ele é mais - que seus olhos – fica quieto – tenhas calma – mate o tempo – sem demora – olha o mundo – e agora? – bem-te-vi! Bem-te-vi! Bem-te-vi! Bem-te-vi!

S.J: _Com que tempo Bem te vi?

B: _ Nada sabes! – Tu és burro? Esse tempo – esse mundo – é seu lamento – bem-te-vi! Bem-te-vi!

S.J: _ Se eu pudesse! Se eu soubesse, ao nascer pra esse mundo, não teria preferido eu ser homem, Bem te vi! Mas não pude como tu, dar-me asas para o mundo, dar-me olhos que vão longe, para o que te traz tão certo de viver aqui no mundo como tu, um Bem te vi!

B: _ Tenho pena eu de ti? - Se és tu que inventa o tempo – se és tu que inventa um mundo – onde cortam-te as asas – onde cegam-te teus olhos para a vida – para o mundo? Esse mundo – não é meu – não é seu – e se nosso vê se aprende a ouvir o mundo! Bem-te-vi!bem-te-vi!

S.J:_ Mas no mundo que inventei fiz-me surdo, Bem te vi! O que escuto vem de dentro, e talvez esse meu vício já é mais que meu sustento, e por isso quero o mundo Bem te vi! Se eu pudesse, se eu soubesse, se eu quisesse ter o mundo, se eu soubesse ser o mundo, aí eu estava, ao seu lado, Bem te vi!

B:_ Se não sabes ser o mundo – deixa quieto – vai-se quieto – e deixa o mundo – e deixa a vida – pra quem se ocupa em sabê-la – em escutar o que ela diz – fez-se surdo - mas não mudo – tu és burro!- tu és burro!- Pois escutas apenas o que é de ti! – Que assim seja, então, um cego! – esquece o mundo – olha pra si – já que achas que podes saber... – nada sabes! Nada sabes! – pois enxergas é com olhos de quem acha que por não ter asas – não vê o que vai além de si – bem-te-vi! bem-te-vi! bem-te-vi! bem-te-vi!

. felicidade tira o ar .

. é muito . é muito ar pra caber nos pulmões . é quase que aquele desmaio que não acontece . é que nem o sol nascer cor de rosa-choque . é que nem o ouvido quando já não escuta a música mas ainda põe o corpo a dançar . quando já não se discerne mais palavra alguma . e o corpo balança . e ainda balança . e continua a balançar . e o sorriso não cresce porque já está lá . é só o que o corpo diz . então sai um sorriso . sai um choro . sai um abraço . vem a saudade . e os pés nas ondas do mar dançando música que passarinho faz . quando nasce o sol . e a lua ainda está lá . ah sei lá . é como se tudo fosse assim: esse movimento de se fazer exato . de se fazer tão chato e explicativo em suas meras suposições . é sempre o mesmo blábláblá . e é aqui e aculá . explodir a vida no pulmão . felicidade tira o ar .

. casa do amor .

. casa do amor é o corpo todo . e não só o coração . é seguir sem os pés meu amor . sem caminho traçado . deixar ir... . deixar fluir... . deixar ser . com verdade . sem vaidade . sem medo de perder . porque em momento algum . nada se tem . nada é de alguém . sem razão pra diminuir . porque amor é o que a gente acredita . e por isso não pode ser um só . e por isso não pode ser só um . amor não é solitário . nem totalitário . amor é involuntário . amor é como se diz: amar é querer bem . e não querer alguém . amar é ilimitado . é ter zelo . é ter cuidado . sentido indefinido . amar não é verbo . por que amar é voar de olhos fechados . e em todas as direções . é ser sem definições . e querer querer . e querer mais . porque amor não começa aqui . amor não termina aí . amor não se limita ao pouco que podemos ser . e amor não quer pensar em nada, não . porque amor foi feito pra sentir . inventado pra multiplicar e não pra se guardar em si . não pra se prender . porque amor foi feito pra se deixar ser . sem ser assim assado . de um jeito mal acabado . porque amor não foi feito pra nada definir . amor é assim . de se dividir em partes e ser tudo em uma coisa só . é ir rumo ao nada que o tudo pode ser . é ir rumo às cores . ir rumo a mim e a você . mas sem destino predestinado . porque amor capota em curvas . amor bate de frente com o que não quer ter .

. lá... na serra do mocó .

. lá, no alto daquela serra . onde o caminho é feito de subida e pedra . feito de seca, calor e cansaço . feito de cercas . de bichos criados, prontos pra serem comidos . comprados . lá, onde o que sobrevive é uma felicidade fatalmente simples . uma vida retomada por silêncios . onde o que se escuta ainda, é o urubu contente em avistar sua carniça . onde o casal é feito pra casar . lá onde o bonito é a cor do tempo pintando de branco os cabelos de quem a vida anda deixando passar . lá . bem no alto . onde o que toca no céu é uma alegria desbocada . alegria de se dizer sem meias palavras . o que se sente . o que se pensa . o que se soube . o que se viu . lá . naquele caminho onde até as flores dão bom-dia . boa-noite . com suas cores em formato de pétalas . onde na escassez da chuva e no chão de poeira seca a vida nasce e permanece até em formato de flores . lá na casa de dona maria . lá, na casa de seu josé . onde o amor também é feito de briga, outra maneira, assim, de se tocar . de ter acesso a quem se vive ao lado por tanto tempo . e onde o próprio tempo se encarrega de acomodar . lá, onde o sorriso sem dentes vem de dentro com a vida traçando as rugas, e abre espaço pra ver o mundo chegar . lá. onde o que vive "sobrevéve" . lá onde as "tatulagens" da pele são rugas da enxada e do tempo . lá onde a água é rara e o céu imenso . lá onde o sonho é do tamanho do que pede realmente o corpo: a vida . lá, onde o que se deseja é não precisar de tantas pedras no meio da estrada . onde a vida é assim... onde a crença da seiva que escorre a vida ainda é maior que o homem . maior que o menino feio que não mostra o rosto de homem por conta do cabelo grande . lá, onde na inocência de verdades, homens e mulheres vivem devendo o pagamento de seus pecados (pecados?) . lá, onde a palavra errada existe é no dicionário . lá... bem lá, entende? bem longe... do mundo todo . onde o que existe a cima de tudo é a verdade . assim sutil . assim . do jeito que ninguém mais sabe .

. ham? .

. incontestavelmente . eu prefiro a loucura . que em sua plena ressonância . batendo forte no peito . grita palavras que rasgam o corpo ao meio . e que fazem as tripas escapulirem do corpo. indo de encontro ao chão ... eu prefiro o caos . que em seu pleno benefício à vida . traz um muro em frente a minha cara e me faz cair de queixo não chão ... eu prefiro a dúvida . que em sua plena palpitância . me entrega ao meio em meio a esse caos ... eu prefiro indevidamente e definitivamente as interrogações . esse movimento de vida sem cronologia que me faz perder-me de mim no tempo . que me faz quebrar-me os ponteiros de dentro . e ir sempre de encontro com o que o mundo traz ... eu nasci pra ser contra tudo . eu nasci pra ser contra todos que em sua constância traz a inexata e fidedigna certeza de si mesmo quebrando a própria cara se contradizendo no final ... eu nasci pra sentir a vida pulsando no corpo . pra sentir o desconforto de não ter os pés no chão . de ter cada vez mais certeza de que nada quero afirmar no final ... eu nasci pra não saber se estou vivo . se estou indo . se estou vindo . só sei que essa dor que explode no peito . é por não saber o que se mostra rudemente real . é por não ter como segurar o tempo nas mãos . é por não poder entender a vida como aquilo que vai com a pele todo dia como poros que morrem nesse tempo irreal . é por nada . simplesmente por nada que dói o mundo que carrego nas costas . nos ombros . nos olhos . na boca . nos pés . nas palavras . é por nada que dói a dor que não tem por que doer e dói . é por ser vício essa dor que me prende com força os dentes na hora de dormir . e os sonhos nunca são os mesmos . e os sonhos sempre serão os mesmos . e os sonhos serão sempre as pálpebras e os cílios fechados guardando nos olhos o que não se distingue . o que não se sabe como mundo . como isso . como aquilo . é por isso . e só por isso que eu prefiro a loucura . que em sua plena consistência insiste em assistir a vida como algo que existe . e só . por que dela nada se precisa saber . por que dela nada se pode saber . e não há empirismo nenhum que traga uma certeza absoluta sobre nada . e não há certeza alguma que não seja mera suposição . me desculpe . mas não acredito na ciência e em nenhuma religião . e há quem diga que meu ceticismo se confirme nessa afirmação . mas calorosamente vou contra isso . levemente me afirmo contra ao próprio ceticismo . ao belo e fabuloso ateísmo . por que não quero aqui afirmar o que não existe a partir do que existo . de como existo . não quero afirmar com tanta certeza a partir do que acredito . porque acreditar em tudo e em nada ao mesmo tempo dói mais . e é nessa dor que faço o percurso dessa existência que não entendo . que não desvendo . mas que prefiro divertidamente mais . porque nesse ritmo a dança se faz . porque nessa dança me expando mais . não saber parece que me cresce .

13 de setembro de 2008

. nitidez da palavra .

Às vezes, falta a palavra nítida em sua função de palavra.
E assim as coisas se tornam soltas.
Se tornam livres.
Sem sentido de coisa.
Sem sentido de ser coisa nenhuma.
Apenas se tornam leves flutuando no vento.
Num vento que não tem perfume quando falta a poesia.
Quando falta a rima,
Quando as palavras faltam.
E morrem na boca sem terem sido mastigadas pelos dentes.
Sem terem sido lambidas pala língua.
Sem terem tido tempo de serem letras de mãos dadas.
Então,
resta o silêncio,
Não o silêncio como ausência de palavras.
Mas um silêncio com a ausência de si mesmo.
Um silêncio vazio
Vago
Raso
Sem nitidez de silêncio.
Silêncio é quando o estômago come as palavras e esquece de vomitá-las.
Quando não saem pela boca,
saem pela pele,
pelos poros,
pelos olhos,
pelo berro que empaca na garganta...
E são carregadas pelo silêncio do outro mantido em função de silêncio.
Silêncio nenhum é igual.
Mas cada vez mais, as palavras se tornam mais idênticas à palavras.
Não adianta mudar as letras, elas continuam sendo palavras.
Palavra não quer dizer nada.
Quem diz mesmo é a boca.
A boca da cara com a boca do estômago.
Porque a dor de palavras sem sentido mora no estômago.
Bem no meio do corpo.
Onde as coisas se processam.
Onde as coisas são digeridas.
Palavras,
têm nitidez de comida,

.

12 de setembro de 2008

. poesia.

. a "eficácia do incompleto": uma sobriedade embriagada de ilusões . sentido paradoxalmente intraduzível . a tradução da tradição do descontínuo . na palma das mãos . é quando a poesia se cansa dela mesma . como quando o escarro . no papel vazio . rima com o expurgo dos pulmões . gritar a dor aguda no reto . restos presos de rimas . feitas em vão . poesia é “lamber o cu do mundo” . arrancar-se pelo cu . como um vômito . vazio de intenções . duelo . entre a arte e um cansaço vazio . entre . rimas feitas . entre . aquilo que não rima . rima é aquilo que faz da privada lugar de merda .

. vamos ao shopping? .

. e a vida facilmente torna-se objeto . obsoleto . como qualquer rima . levemente inútil e descartável . como qualquer tese . qualquer teoria . qualquer “coisa” . frágil . como qualquer palavra . delicada como qualquer crença . dócil . e legalmente perversa . ... . o desaparecimento de qualquer vestígio . de qualquer tormento . está sempre em promoção nas prateleiras . muito bem organizadas . em movimento estático: onde crer é uma vertigem: onde os sentidos e suas alucinações indolores vão à procura de qualquer objeto . vida enlatada em quilos de inconsistência . pronta pra ser “escolhida” . embalada em símbolos constituídos de atores . onde cada papel é designado à um único e especial “estilo”. ... e o que fizeram com o corpo? . e o que fizemos da vida? são tantos na prateleira os s e n t i d o s dessa vaga insistência... . no corpo em que nos encontramos escondidos são poucos: lembro-me tato, visão, audição, olfato, paladar e outros que tão “inusados” como estes: só não conseguem comprar o s e n t i d o da v i d a .

. Dona Maria .

.

Dona Maria, 66 anos de idade e de vida bem vivida em cada gesto cansado e em cada sorriso. Rugas em todo corpo, negro, pintado de cores, de poeiras, de cabelos disfarçados com suas raízes brancas crescendo... sentada na calçada, chupando um pirulito rosa, na espera do neto que não volta pra conseguir ir embora daqui que não é o seu lugar... ela gosta mesmo é da sua terra Juazeiro do Norte, onde ela encontra na fartura de coisas que come de graça, plantadas na sua roça onde deixou dois maridos, a simplicidade do que é viver...
O primeiro marido saiu e não voltou mais. O segundo, ela conta que morreu porque de manhã comeu “quaiada” e a noite se atreveu com cachaça. Agora sem ele, ela diz que não tem muito quase nada... agora, ela não está mais assim tão boa de vida. Diz que se tivesse pai e mãe tava era lá com eles em casa. Porque lá ela tem três casas, e daqui ela não gosta porque até água ela tem que pagar pra ter:
- “Até água, né minha fia?”.
..Falando dos contratempos do tempo e da sujeira do mar, ela abraça um sorriso ante uma gargalhada quando surpreendida por uma pergunta tão clichê quanto chupar um pirulito na sombra da árvore de uma praça:
- “E da vida, Dona Maria, a senhora acha o quê?
- “Da vida minha fia?
HaHaHaHaHaHaHaHaHahahahahah
... da vida...
eu só acho graça!”


(Alcobaça, 1º de Janeiro de 2006)

.

. grito .

. é como se a insistência . numa suposta inutilidade da palavra expressa . se mostrasse contraditória . ... . porque na hora em que o silêncio explode . tudo . vai à procura de qualquer palavra . qualquer coisa que saia . de dentro . que na oquidão do mundo se perca . na busca do próprio sentido . ... . é como não saber se equilibrar nas próprias pernas.

. ai a saudade .

.

: no vácuo
: na pele
: no sangue
: no pensamento

:a saudade
:arde

.

. órgãos sem corpo .

.

prender-se

ao

vácuo

inconsistente

do

que

não

se

decifra

...perder-se

permitir-se

admitir-se

em

tais

imprecisões...

.

. palavras esquizofrênicas .

. palavras de vício forte . sem terra . atravessa sul . atravessa norte . palavras de bucho cheio . saem como vômito . caem como murro . fazem seus recheios . palavras de saudades tortas . de zelo e vento fortes . de coisas ternas . e distancias mortas . palavra que diz tudo . palavra que nada sabe . palavra é o mundo. sentado... em cima do muro. balançando as pernas. acarinhando ouvidos . larvas de língua . que engolem suas gramáticas . palavra de espírito vivo . de almas penadas . com medo de seus próprios fantasmas: palavra de gente . palavras não articuladas. difusas . inúteis de si : e em si : quebradas. sem contextos . desconexas . desconectadas . presas em seus manicômios . em que se fazem . e se desfazem . em suas cabeças . cabeça: manicômio dos pensamentos : cabeça . manicômio dos pensamentos : cabeça: manicômio dos pensamentos . pensamento é feito de palavras que se debatem em muros simbólicos em que se fazem os crânios . palavras se refletem em espelhos quebrados : a . palavra . é. sempre . a mesma .

. pela fechadura .

.

sai
a
palavra

torta

da
boca

morta

como
se
fosse

porta

.

. você .

Pra saber... o que me resta são manhãs de orvalhos.
pra entender... você presente em meus sonhos diários.
pra rimar... seu tempo não rima com o meu, e das janelas que você me deu,
o que me aconteceu: foi me encantar... com sua ausência.
tem dias que você não vem...
há dias que você me tem:
... e nada!
pra dizer...é como aquela flor que não se abriu.
só porque...os seus canteiros quem regou fui eu...
pra você...me entrego aqui em forma de canção
que é pra dormir nesse abraço bom...
e te esperar...
entrando por minhas janelas...
em noites que meu sonhos são
(e mesmo que isso seja em vão):
...você!

. sonambulo sono .

. falta . a busca constante de um movimento . sobra . a sobra estática do corpo . acostumado com nada . falta . a falta de tédio . sobra a preguiça . de espreguiçar-se sobre o próprio corpo . é como se o corpo levantasse da cama : ainda que sem acordar . os sentidos ficam presos a sentirem-se acomodados . falta . a inspiração pra fazer ter qualquer sentido o que menos tem sentido na vida : a própria vida . porque não basta respirar . encher os pulmões de nada é não ter o que tirar .

. monólogos da solidão .

Nessa tarde a solidão, bateu em minha porta... E eu atendi. Como quem não se importa, lhe servi das melhores coisas que inventei. Sentada e a falar, olhando pra mim, me perguntou:
_"Por que me deixou entrar?"
Sem palavra alguma eu respondi:
_"Ando preferindo a solidão, ando me cansando não entender mais ninguém, ter que ser alguém, sem saber se sou. Ter que me fazer assim, coerente e crente de mim, sem poder cometer pecados que não são meus. E esses erros seus: Há ferida aberta."
Indo embora me falou... que sozinha nunca está, está sempre a procurar quem a deixa entrar, qualquer porta aberta...
na palavra incerta...
ela vai ficar.

. janelas .

. abriram-se as janelas do mundo: o que se vê são ruas sem passos . olhos sem fundo . cortinas sem cores . fechando lacunas . engolindo os espaços . na parede: pintado o reflexo: de suas grades . da sua prisão colorida . quatro paredes . cinco . doze . janelas de palavras . janelas sem fechaduras . janelas que se abrem pra dentro . janelas que se fecham pra fora . janelas . janelas da alma . janelas do corpo . das percepções . janelas que se abrem pro invisível . janelas de mundo sensível . janelas que se abrem com as mãos . janelas de sonhos . na sua janela: a sua “vontade de ser porta” . e de ser porta aberta . de ser ponte pra rua . pro espaço vazio das ruas sem passos . pro espaço vazio . de pessoas vazias . e vagas . vagando em suas ruas . como suas escadas . vagando em si mesmas . de olhos fechados . de bocas abertas . todas . com seus espaços internos tão conturbados . todas . com suas janelas quebradas e de frágeis acessos . e algumas: sem janelas . e você com tantas delas . abrindo variados espaços . possibilidade pra milhões de pontes . pra milhões de sonhos . pro conhecido desconhecimento de si mesmo . janela de poesia sem rimas . dois passarinhos cantando em sua gaiola . e de porta aberta . na sensação confortável de estarem presos em si mesmos . de não quererem voar . pra onde não tenham . como não enjaular-se . prisão perpétua voluntária . prisão diária . aberta . embriagada . afogada em cores que pincéis não pintam . eis que portas se abrem no abrir de suas janelas ,

. pra tom, arnaldo e manu .

.

Cada gota de chuva é um pedaço de nuvem que cai no chão. É um arco de cores, um pingo de tons que se faz canção, Que descansa a poeira do dia, Faz do rio uma rua alagada, E a janela do quarto fechada, Cega os olhos desertos de flores... E os jardins tão opacos de dores: São os seus guarda-chuvas Desabrochando pra solidão. Cada passo escondido dos pingos de chuva desfaz canções. São as rimas de dores e lágrimas cinzas de um coração, Que abafa o vento do mundo, Faz do riso o descaso de tudo, E o medo do medo profundo, É o contrário de flores regadas... Mas um muro de portas fechadas E de passos incertos trilhando uma dança em suas prisões... cada gota de chuva é um pedaço de nuvem que cai no chão, Cada gota de chuva é um pedaço de nuvem que cai no chão

.
.

bem vindo...




aos sonhos,


.

. insônia permitida .

. quando a saudade . visita a madrugada . entra no quarto . pertuba o sono . invade os sonhos . pra acompanhar o nascer do dia . a vontade no desconhecido . o desejo do novo .

. surto .

. coisas que acontecem . sem previsão de tempo . de movimentos . de expressões . de palavras . coisas que acontecem no instante exato do inesperado . inexplicáveis . inesquecíveis . elas caem no instante que caem . e ficam . quebradas . ou não . inteiras . ou em farelos . ficam . ali . com seus ponteiros quebrados . prontos . no desejo do desejo . na espera do próximo segundo . e elas simplesmente acontecem . simples . como fatos . como expurgos . que saem . que entram . coisas vivas . limpas de qualquer tipo de superficialidade . de artificialidades . qualquer tipo de atuação . porque o espontâneo não permite atuações ensaiadas . apenas as preciptadas . movimentos . sem sentido de ser algo . simplesmente são . sem pretenção alguma de ser . aquilo que rola de ser . como se a poesia engasgada . não tivesse tempo de ser mais rápida que os dedos . porque enquanto a cabeça pensa no que pode escrever: os dedos já escreveram . o tempo já passou . e tudo já foi feito . assim . abruptamente . como num susto . como num sopro que só tem tempo de passagem . como num grito . que sai antes da boca abrir por completo . é como a boca que beija porque o corpo quis mas não disse nada . de imediato . rimou sem permissão da poesia . virou poesia concreta . abstrata . uma prosa sem contextos de parágrafos . sem condições de frases . sem precisões de sintaxe . sem ordem . sedenta de caos . de singularidades . de criatividades . numa organização precisamente feita por espontaneidade . e foi lá e fez . e foi lá e foi . assim . de explodir as víceras . todas elas . e pronto . ser presente . sem embalagens . deixar nú o momento . e ser verdade . de verdade . ins . tan . tâ . ni . a. men . te . no instante do aqui . no instante do agora . sem medo . e ponto

. auto-escola .

. antes de tudo aprender a olhar . depois: aprender a ver . enxergar é um processo que abrange o corpo todo . da cabeça aos pés: o corpo vê o mundo . um pedaço possível de tudo . até o visível pros olhos . porque o que não é visível é possível . mas não com a pupila . às vezes parece que tudo está no ar . prestes a ser colhido como fruta . no vento: como aquela folha que caiu da árvore para que outra nasça no lugar . os olhos pedem passagem pra coisas novas . pra coisas que fazem o corpo por inteiro enxergar . os sentidos às vezes não parecem mesmo ser racionais . parecem estar fora dessa lógica toda de organizações . às vezes . parece que o corpo gosta mesmo é de d e s o r g a n i z a r . de ser livre em si mesmo . e por si mesmo se libertar . ver o sangue escorrer . ver o riso se abrir . ver a boca tocar . em bocas que tocaram em bocas que em bocas não param de tocar . o toque também é um sentido possível pros olhos . leitura sem sílabas . sensíveis . a pupila do cego dos olhos se encontra na ponta da pele . cada curva . cada traço . cada quebra . cada fiapo . cada detalhe . mínimo . faz sentido de se tocar . li . ser . gia . si . nes . té . si .ca . o mundo perdeu a visão . as peles estão cegas também . os poros se perderam no mofo . guardados num tempo perdido . na espera de um novo impossível . invisível . descartável . é tanta coisa pra se ver : que nada é visto . é tanta coisa pra se ter : que tudo se quer : porque nada se tem . porque nada se consegue ser no mundo de cegos . de cegos por inteiro . no mundo de cegos que não tem pupila em lugar nenhum . nem no umbigo . lugar mais usado ultimamente para se (des) ativar os sentidos . mulas cegas . empacadas . perdidas em meio à tanto barulho . em meio à tantos gritos . em meio a tantos gritos de mulas cegas perdidas . perdidas . que nem folhas secas em vento . que caem para que outras venham . para que outras tenham . lugar pra se enxergar fora da copa opaca de folhas . olho por olho : o mundo já ficou cego . dente por dente : o mundo já não mastiga antes de engolir . quer sentir o gosto da comida antes de colocar na boca . quer tudo logo . antes . e pra si . o mundo anda cansado . cansou de esperar . decidiu se encolher . quieto . sozinho . num canto qualquer . diz passar o dia todo tocando em tudo . diz que o cheiro do amanhecer tem um tom meio lilás . e que o vento muda quando o sol no horizonte chega de mansinho . música pra ele é silêncio . passou a ouvir os pássaros dizerem as horas que homens são incapazes de inventar .

. descaminhos .

. o amor . segue seu rumo . vai . sem setas . tromba . em curvas . tão desertas . vai sem hora pra voltar . não sabe navegar em calmaria . e num instante de poesia . vai . remando . sem rimar . ...casa do amor . é o corpo todo . amor . da pele ao osso . e do riso à dor . do olhar ao toque . seja aonde for . casa do amor . é o corpo todo amor... . o amor . vai . caminhando pelas ruas . em silêncio invada a casa . e não pede pra ficar . e a paz . que até então . era só tua . sem adeus te deixa nua . sem destino à caminhar .

. o tempo da vida .


um

sopro

um

tempo

curto

notas

musicais

tristes

de

fazer

sorriso

abrir

movimento

desatento

um

pouco

de

saudade

leve,

suave,

funda,

longas,

intermináveis,

doloridas,

pessoas

membros

superiores

inferiores

no

meio

de

tudo

o

desejo

de

tudo

de

nada

imprecisões

indecisões

contradições...

palavra

rima

besta

entre

lábios

entre

a

pele

entre

os

olhos

leve

balbucio

um

reticenciar

sentidos

palavrear

silêncios

pontuar

encontros

dança

movimento

carpe

diem

acordar

sonhar

dormir

realizar

o

mundo

passagens,

a

vida

dura

dura

o

tempo

de

um

sopro


.

.


. pousar a eternidade em constelações adormecidas . em sonhos de ponteiros quebradiços e frágeis . deitar-se ao peso de sombras frescas . de nuvens que não passam . estar em si mesmo . e a si mesmo mover-se como sopro . notas musicais . leve como a dança de fumaças de um cigarro . o infinito: é um segundo .

. ensaio sobre um silêncio .


. além das palavras . aquém das letras . o que resta em meio a nada disso : o que não sai da boca . o que contém sentidos . passa além das horas . ouve além do ouvido . pousa sobre a pele . e não é percebido . choca o desconhecido . faz de escasso o fôlego . cabe sem espaço ... e não rima : metáforas poéticas de uma vaga ontologia . linhas que mapeiam o intraduzível . coisas que se fazem opacas no invisível . tudo se passa na espera de (im) possíveis encontros . na busca do novo e do imperceptível . vazio de palavras . perdido em meio ao vento . que se faz no instante do indizível .... de tudo que vai do todo que fica : sobra ainda imperecível o rascunho do não dito.

. não entre .


. abriram-se as portas do mundo dos gigantes . o que se encontra . como sempre . são os mesmos conceitos lapidados e cristalizados . um mundo onde brilhar como gigante talvez seja o que importa . gigantes se fazem tão grandes . que acabam por ter o olhar sobre o próprio mundo: um pouco distante . o olhar dos gigantes se perdem na falta de horizontes . e o horizonte de seu mundo é tão distante . que seus pés pisam em falso esmagando os que não cresceram tanto . os que ainda não se inflaram com seu próprio ego . no mundo dos gigantes cada um é seu próprio centro . cada um faz do mundo o seu umbigo . e pra crescer nesse mundinho sem horizonte é preciso que você viva sempre repetindo . e repetindo . e repetindo . repetindo sempre o mesmo . isso sim é aprender a crescer como gigante . é cruzar os braços . é pisar no que parece tão imperceptível . porque o que parece não “parecer” no mundo dos gigantes . é tão pequeno quanto o próprio mundo . pois vê o horizonte quem está nele . nem a baixo . nem a cima . apenas do tamanho que se pede pra se ter um horizonte qualquer . quando se entra nessa porta aberta que os gigantes te abrem . você pode perceber que seus corredores são estreitos . eles se fecham . e se fecham . cada vez mais . e vão funilando . especificando . especializando . se fechando . e conservando como peneira apenas o que não passa . o que não muda . o que não se transforma . é cômodo ser gigante . é cômodo tropeçar no próprio mundo e ter o seu tamanho pra justificar . afinal o que não se vê . talvez não seja mesmo tão importante . tão produtivo como crescer no mundo dos gigantes . e produzir sempre o mesmo . o mesmo mundo . que está prestes a explodir de tantos egos . de tantos gigantes pisando no mundo que fica cada vez menor . cada vez menos importante . nunca tão importante quanto os próprios gigantes . assim, os gigantes simplesmente podem abrir as portas do mesmo modo que fecham . se você já estiver um pouco inflado em seu próprio ego . talvez você fique . mas se você não repete a grandeza dos gigantes: você vai... descartado . pisado por ser pequeno... . os gigantes são engraçados . olham tanto o próprio umbigo que esquecem que o umbigo foi feito pra que a gente se lembre que precisamos sempre do outro . seja pra nos fazer crescer . ou diminuir . ninguém sabe do próprio tamanho sozinho . ninguém é gigante sem ter a quem diminuir . e pra continuar grande no mundo dos gigantes é preciso sempre que tenham pequenos a serem esmagados . pequenos a serem descartados, comprados a preços baixos . pequenos a serem pisados por pés que não encontram seus próprios horizontes . daí cabe a você (quando as portas se abrem como oportunidade) saber o tamanho que se quer ter . e o que você é capaz de fazer pra conseguir ter o tamanho que te cabe . cabe a você caber no lugar que você está . pra acabar se tornando “aonde” você é . porque ser no mundo dos gigantes implica saber onde você está . pois “estar” se torna status e porta de entrada para se ter o poder de ser . ser gigante . beeeem gigante . com olhos perdidos . assim . sem horizontes . e você... vai querer entrar? .

. cada qual cada quem .



. cada cor . cada traço . cada ponto . cada soma . misturar . dar continuidade . mesmo sem saber . cada segundo . um novo pincel . pincel de cores . concretas . abstratas . apenas cores . cores sem horas . cores do agora . cores do que é . do que poderia ser . coisas que foram . e ficaram . inertes . pra que se possa voltar . e mudar . e ir . sem rumo . colorindo histórias . contos . crônicas . piadas . teatros . atuações . as coisas . supostamente... . são o que cada um acredita ser . cada um . cada qual . cada quem . cada pincel . pincela ao seu modo de ir . e vir . e deixar as coisas . em cores . pra trás... . a cor muda a cada olhar . sem nomes . elas são somente o que são . dependentes de luz . dependentes dos olhos alheios de quem vê . tudo depende . tudo depende de tudo pra ser . num vai e vem desgovernado . as coisas vão sendo . o que parecem ser . o que os olhos que vêem e acreditam que são o que vêem: vêem aquilo que as coisas supostamente são . cada um . guardado em seu pequeno pote fechado . entreaberto . vai pincelando . deixando resquícios . sobras . faltas . desenhos incertos certos de ilusões . de ótica . sonoras . táteis . frágeis . cores diversas . imersas . complexas . indecifráveis . sem pureza alguma . cores . cada dor com sua cor . cada olho em lugar . cada crença em seu pensar . cada ser em seu penar . ... e das pessoas . que passam . e se passam . e ficam . cada qual a sua maneira . que sobre em pinceladas: o resquícios de coisas boas . só isso .

. muros simbólicos de cimento .


. sim, são frágeis todas as linhas que separam o contrário do contrário . é como tentar se equilibrar em corda bamba . uma corda que se estica tanto a ponto de arrebentar ou que se folga tanto a ponto de se soltar . não, não é questão de equilíbrio entre contrários . não é questão de ser um ou outro . mas de estar entre um e outro a ponto de tocar e ser tocado pelos dois . é como misturar o quente e o frio dentro da boca . ou o salgado e o doce . em um momento não há mais distinção ou separação entre os dois . não mais existirá os dois . talvez tudo seja um só . o um e o outro e você e as sensações . puro caos... . há quem diga que o mundo real não passa de uma ilusão . a quem diga que o real se distingue do irreal . chega a ser surreal alguns muros construídos por pessoas reais que acreditam que sua realidade se impõem sobre certas “ilusões”. ou melhor dizendo algumas alucinações . ou melhor dizendo alguns desvios . ou melhor ainda distúrbios . patologias . afinal, nesse mundo “real” que você constrói com “suas” crenças tudo há de ser palpável . concreto como cimento . talvez seja isso mesmo: vamos todos construir um mundo acimentado: com nossos muros cranianos bem seguros para que nada fuja do controle . pra que nada seja espontâneo . pra que nada seja livre . pra que nada flua . afinal, cimento é duro . e talvez seja difícil derreter idéias feitas de concreto . talvez tudo seja mais fácil ter a continuidade que tem . seguir o mesmo caminho de sempre é bem mais cômodo . ta tudo aí . é só pegar pra si . é só comprar e vender . mas não... . loucura nesse seu mundinho de merda que você inventa todos os dias é não ter cérebro de cimento . ter um mundo de idéias ou conceitos contraditórios te leva pra um sala escura e fechada dentro de muros enormes . e seu dia-a-dia dentro dessas muralhas é tentar entender que não se pode ser livre . não se pode desviar os caminhos feitos com tantos esforços e com tanto cimento que você mesmo ajuda a criar . não se pode nada aqui . só o que está na lista do que é permitido . e você como bom cidadão obediente não quer fugir das regras . não quer parar dentro de muros enormes onde pessoas desobedientes a essa ordem opaca foram parar . você quer continuar acreditando que o que vive a cada dia é a sua liberdade . estar nas ruas acimentadas e seguir seus caminhos de cimento é liberdade pra você . é sim . é isso o que você pensa . e é isso o que você é . um grande saco de cimento jogado pra lá e pra cá . e você faz isso muito bem por sinal . porque sacos de cimentos não tem capacidade pra pensar ou se questionar sobre o que vive . pessoas com cérebro de cimento simplesmente levam a vida como fato . e não há porque mudar . ta tudo tão bom como está, não é?. um mundo acimentado . com caminhos acimentados . com sacos de cimentos caminhando por esses caminhos . é tudo tão lindo nesse mundo normal . nesse mundo de muros gigantes onde se escondem o que foge do padrão . vamos lá . é isso mesmo . a cada dia mais cimento . vamos produzir cada vez mais cimento para se ter um mundo cada vez mais acimentado . vamos lá . todos juntos . como um lindo exército de sacos de cimento marchando em direção ao muro que construímos . todos iguais . uniformizados com a mesma marca de cimento . aquela, que você paga pra mostrar a etiqueta do melhor cimento que quer se tornar . vamos lá . todos . cegos-surdos-mudos e obedientes caminhando . pra quebrar a cara nos muros que você ajudou a construir sem se questionar . vai lá . caminha . e soca sua liberdade no cu se não quiser parar dentro desses muros tenebrosos construídos a base de medo .

11 de setembro de 2008

. sem título .


.
liberdade
é
verbo
e
não
se
conjulga
no
tempo
.