12 de outubro de 2010

. eu e ela .

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ela diz que adora essa vida de pessoas amontoadas.
de paisagens enquadradas nas pequenas janelas de aluminio. e de horizonte entre os prédios, mais parecendo uma luz no fim do túnel.
dia que o horizonte fica estreito ou feito pelo 16º andar do prédio em contato direto com o céu.
a praia, de tão inacreditavelmente infinita e bela, parece mais uma foto macro. é que o mar fica diferente quando visto fora do quadrado da janela.
ela ainda diz que gosta dessa vida de pessoas amontoadas e solitárias. que é um monte de gente sozinha junta.
e que precisa mostrar que não está só pra todas as pessoas que pensam a mesma coisa ao redor.
ela adora janelas.
e mais ainda de portas que ainda te levam pra outro lugar...


eu não sei... eu acho que gosto de horizontes largos.
de céu que a gente vê sem ser partido em pedaços possíveis com o que cresce tão alto desse chão que a gente cria.
não, eu não gosto dessa visão que tenho da minha janela... pessoas entediadas em suas janelas... vidas enquadradas em pedaços quadrados de alumínios.
não, eu não sei se gosto de vidas amontoadas em cima da outra e do lado sendo sufocadas por tanto concreto.
não, eu não gosto de construções tão humanas assim... eu não gosto de tanta solidão junta... prefiro as coisas pequenas, as cidades vazias, vazias de prédios grandes, vazias de fantasias e modas e quaisquer modernidades, vazias de barulhos, de buzinas, de batidas, de gritos, de gente... vazias de solidões aparentes... é que eu acho que solidão não tem lugar... solidão tá é dentro d'agente... mas sei lá... é que é estranho você se sentir sozinho no meio de tanta gente... tanta gente no mesmo lugar... sem caber... sem se caber em si... tanta coisa... tanta janela... aberta pra solidão da janela entreaberta do outro... não... eu não gosto do horizonte como paisagem... gosto de estar nele... não gosto do mar sendo visto da janela do décimo sexto andar.. gosto de estar nadando nele e de fazer parte de seus movimentos... não... eu não sei...já me basta amontoar palavras em qualquer coisa que seja... textos como edifícios de letras solitárias... já me basta amontoar as roupas numa instante com alguns andares... não... não sei... não gosto de solidões criadas... construídas a base de cimento fazendo concreto o tédio de ser essa cinza e abstrata paisagem... eu gosto do silêncio consentido entre pessoas que se falam quando se olham passando pela rua e porque se conhecem, que não resumem a comunicação ao educado "com licença" porque não há mais lugar na calçada para pedestres apressados para não viverem a vida ou as informações que te restam pra que se cheguem a qualquer lugar... onde haverá mais algumas milhões de solidões andantes guardando um silêncio apenas educado... eu não sei... prefiro as casas de palha, ou de madeira que recebem a cidade inteira para um cafezinho... da janela do meu quarto eu escuto as milhares televisões ligadas... todas acompanhadas por solidões programadas e canais específicos, engavetados, enjaulados, de portas fechadas, trancadas e cheias de medos... não... eu não... .

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