12 de novembro de 2009

. e uma asa na alma .

... é . é que eu prefiro as coisas que não terminam . as coisas que vão além das bordas . dos desenhos que vão e dão continuidade saindo do papel e terminando onde permite a imaginação . eu prefiro as coisas largas . que não se pode segurar com as mãos . prefiro as coisas que não cabem nos olhos . e que não cabem aos olhos uma ilusória distinção . eu gosto das palavras inventadas . de idiomas intraduzíveis . de sotaques misturados . eu gosto de bagunça no quarto . pra arrumar as coisas arrumando a vida . eu gosto da estranheza . do inesperado . do que balança o que parece tão bem estabelecido . eu gosto da estranheza do silêncio . e gosto quando esse silêncio aproxima . eu gosto muito de silêncio . muito mesmo . e de cidades pequenas . de cidades estranhas . de pessoas que se conhecem e que se falam nas ruas sem educação . gosto de intimidade porque intimidades não pede que você seja educado . educação é formalidade . e eu não gosto de coisas formais . não gosto de programas burgueses . de bairros de elite . não gosto de roupas caras . não gosto de maquiagem . nem de salto alto... . mas me pergunto às vezes se isso faz realmente grande diferença... . não interessa qual a fantasia que se usa no dia-a-dia . qualquer roupa é qualquer fantasia . e as fantasias não te dizem realmente sobre a nudez do corpo . usar roupas é questão de educação . de civilização . e eu não sei se vejo muita vantagem em ser tão bem civilizado . pessoas civilizadas em suas organizações não sorriem muito . são todas tensas preocupadas em atuar muito bem o papel que aparentam ter com suas fantasias . é tudo muito atuado demais . pouca espontaneidade . pouca alegria . pouca paz . pouco caos . por isso que cidade grande parece estar sempre a ponto de bala . elas se encontram sempre no meio termo de um fio tênue entre uma coisa e outra . isso às vezes parece interessante quando se trata de uma cidade onde tem pessoas do mundo inteiro se fantasiando de todas as maneiras possíveis . a qualquer momento um bum . e pessoas começando a entender o que se trata realmente de espontaneidade . de ter o corpo em movimento... . cidades organizadas são recheadas de tédio . pessoas sendo educadas o suficiente para serem o mais mecânicas possíveis . e as coisas mecânicas me deixam realmente entediada . me deixa com sono . com preguiça de viver . sei lá . ando escrevendo bem menos . tem uma coisa adormecida aqui dentro . parece que ainda é aquela história de lagartas guardadas em casulos com medo de virar borboleta... . sei lá . tanto faz . só sei que gosto de coisas que dão asas à imagem . asas à iaginação . pra que se tenha uma asa na alma . pra que se queira sempre continuar coisas que parecem não terminar . em nada . nem em si . nem no outro . coisas que ão tocam você porque passam por você sem que você tenha dentro . um corpo sem limites . um mundo sem limites . sem fronteiras . sem órgãos . pra que a asa voe . pra que tudo tenha ilimitado movimento . pra que tudo o que se sinta não se esbarre com uma questão de entendimento . é que a vida não tem discernimento . é que...

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