20 de dezembro de 2008

. sem palavras .

.

meu corpo é uma palavra inexata
que permite embaralhar-se em si mesmo
para não ser dita
as letras em si não importam
e não se importam
o que importa
é a sensação de ver
p
e
s
c
o
ç
o
tornar-se cintura
da faringe tornar-se a
c
o
l
u
n
a
incerta
certa de carregar bem ao meio
uma garganta
com nitidez de umbigo

não faz sentido
eu sei
na verdade
nada parece fazer sentido

mas meu corpo é palavra que não se pontua
mas que pousa no mundo
assim como as palavras
no vento...
e como estas,
meu corpo vai...
sem rumo e sem sentido
fazendo de mim um texto sem nexo
espelho com milhões de reflexos
palavra viva
que se aprende nova
a cada dia
e que aprende todo dia
um novo jeito de ditar-se
meu corpo é ditadura da linguagem
meu corpo se perde em suas margens
não sei onde começo
não sei onde termino
e talvez
seja isso...
não termino nunca...
meu corpo se
dissssssssolve
em
ssssiiii
mesmo
meu corpo
tem o peso de silêncios
forma opaca de gritos secos
presos
na prisão que se faz a pele
com seus poros soltos
intocáveis
como as
l
e
t
r
a
s

.

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