15 de setembro de 2008

. auto-artesanato .

.

despedaçando-me
formo um novo artesanato
de mim mesma:

amputo-me de mim
e assim
me sinto na sobra de espaço
que não me deixo
ao me ver num encontro
de mim
comigo mesma:

dentro
de
mim
não
me
caibo:

por mais ou por menos
me sou dolorosamente
o que posso
de mais exacerbado
de mais ecleticamente apropriado:

uma arte sem rótulo
pintura sem tinta
pincéis sem cerdas
tinta sem óleo
estrutura sem argila:

palavra não inventada
sem sílaba
fonema inútil
infabricável:

grito mudo

aquilo que se enxerga
no escuro
de olhos fechados:

pele sem poros
carregando
como sempre
a fantasmática,
inocente sutileza,
de uma verdade vencida
e sempre repetitiva:

sempre:

a mesma coisa:

começada
com um ponto final
finalizada
antes mesmo de iniciar:

dogmatizada
como o sentimento na palavra:

onde o embaçado é nítido
onde o nítido se embaça
consigo mesmo:

letras adubadas por vento

não adianta falar

nunca será:

a mesma coisa:

nunca:

reticências

.

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