12 de setembro de 2008

. muros simbólicos de cimento .


. sim, são frágeis todas as linhas que separam o contrário do contrário . é como tentar se equilibrar em corda bamba . uma corda que se estica tanto a ponto de arrebentar ou que se folga tanto a ponto de se soltar . não, não é questão de equilíbrio entre contrários . não é questão de ser um ou outro . mas de estar entre um e outro a ponto de tocar e ser tocado pelos dois . é como misturar o quente e o frio dentro da boca . ou o salgado e o doce . em um momento não há mais distinção ou separação entre os dois . não mais existirá os dois . talvez tudo seja um só . o um e o outro e você e as sensações . puro caos... . há quem diga que o mundo real não passa de uma ilusão . a quem diga que o real se distingue do irreal . chega a ser surreal alguns muros construídos por pessoas reais que acreditam que sua realidade se impõem sobre certas “ilusões”. ou melhor dizendo algumas alucinações . ou melhor dizendo alguns desvios . ou melhor ainda distúrbios . patologias . afinal, nesse mundo “real” que você constrói com “suas” crenças tudo há de ser palpável . concreto como cimento . talvez seja isso mesmo: vamos todos construir um mundo acimentado: com nossos muros cranianos bem seguros para que nada fuja do controle . pra que nada seja espontâneo . pra que nada seja livre . pra que nada flua . afinal, cimento é duro . e talvez seja difícil derreter idéias feitas de concreto . talvez tudo seja mais fácil ter a continuidade que tem . seguir o mesmo caminho de sempre é bem mais cômodo . ta tudo aí . é só pegar pra si . é só comprar e vender . mas não... . loucura nesse seu mundinho de merda que você inventa todos os dias é não ter cérebro de cimento . ter um mundo de idéias ou conceitos contraditórios te leva pra um sala escura e fechada dentro de muros enormes . e seu dia-a-dia dentro dessas muralhas é tentar entender que não se pode ser livre . não se pode desviar os caminhos feitos com tantos esforços e com tanto cimento que você mesmo ajuda a criar . não se pode nada aqui . só o que está na lista do que é permitido . e você como bom cidadão obediente não quer fugir das regras . não quer parar dentro de muros enormes onde pessoas desobedientes a essa ordem opaca foram parar . você quer continuar acreditando que o que vive a cada dia é a sua liberdade . estar nas ruas acimentadas e seguir seus caminhos de cimento é liberdade pra você . é sim . é isso o que você pensa . e é isso o que você é . um grande saco de cimento jogado pra lá e pra cá . e você faz isso muito bem por sinal . porque sacos de cimentos não tem capacidade pra pensar ou se questionar sobre o que vive . pessoas com cérebro de cimento simplesmente levam a vida como fato . e não há porque mudar . ta tudo tão bom como está, não é?. um mundo acimentado . com caminhos acimentados . com sacos de cimentos caminhando por esses caminhos . é tudo tão lindo nesse mundo normal . nesse mundo de muros gigantes onde se escondem o que foge do padrão . vamos lá . é isso mesmo . a cada dia mais cimento . vamos produzir cada vez mais cimento para se ter um mundo cada vez mais acimentado . vamos lá . todos juntos . como um lindo exército de sacos de cimento marchando em direção ao muro que construímos . todos iguais . uniformizados com a mesma marca de cimento . aquela, que você paga pra mostrar a etiqueta do melhor cimento que quer se tornar . vamos lá . todos . cegos-surdos-mudos e obedientes caminhando . pra quebrar a cara nos muros que você ajudou a construir sem se questionar . vai lá . caminha . e soca sua liberdade no cu se não quiser parar dentro desses muros tenebrosos construídos a base de medo .

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